Mónica de Miranda: Arquipélago
> 24 de Janeiro, 2015
Carlos Carvalho Arte Contemporânea (Lisboa)
Mónica de Miranda (1976). Vive e trabalha entre Londres e Lisboa.
“Arquipélago”, é um projecto de criação e de investigação artística que reflecte a representação da paisagem como um teatro, ou seja, como um palco imaginado, recriada a partir do sentido ficcional que está por detrás da imagem de uma ilha e da ideia de jardim botânico.
As ilhas têm sido uma fonte de fascínio na nossa imaginação porque, por serem um território separado de outras terras por água, prestam-se facilmente à fantasia e à mitificação. O trabalho de Mónica de Miranda re-imagina conexões geográficas, como um arquipélago de lugares reinventados a partir de paisagens ficcionadas entre vários espaços geográficos. Os espaços insulares são imaginados para explorar e criar pontes entre o real e a ficção, como uma resposta às realidades culturais e sociais, muitas vezes tomando a forma de utopias / distopias, édens, nações, meta-textos, encruzilhadas culturais e espaços fora dos seus lugares comuns. O sentido do imaginário que está por detrás da ilha é susceptível a interpretações que se formam pela articulação de perspectivas sobre a relação de deslocamento entre o eu e o outro, o centro e a periferia, servindo como locais de mediação entre culturas que se distanciam do seu lugar de origem e se constroem noutros lugares. Encontramos a ilha representada neste projecto como o locus de uma transformação, revelando uma tradução que levanta questões sobre a carácter metafórico da cultura, do desejo, do deslocamento, da solidão, do isolamento, do exílio ou da insularidade.
O arquipélago têm em si outras fronteiras; existe separado do continente, ou entre continentes, e cercado pelo oceano ou mar e sempre no limiar de identidades. Estes são, pois, espaços suspensos, de trânsito e de mediação entre culturas, onde as delimitações cartográficas de sul e de norte são substituído pelo desígnios de interior e de exterior, de fora e de dentro, de pertença e de exclusão.
O jardim botânico é um objecto de consumo estético que está implantado dentro da malha urbana e que aponta para um conflito com a própria natureza, pois é um espaço que invade o território de outras referências e é alheio ao contexto onde se insere – um lugar onde se constrói uma artificialidade para funcionar como jardim de recreio. Tendo relação a uma geografia urbana de fruição de um desejo pelo tropical, o jardim botânico é um lugar de contemplação, de ausência de uma natureza agora perdida e que foi substituída pelo ideal exótico. Constitui-se assim como uma experiência de viagem focada na reprodução do sentido do belo exótico, convertendo-se num objecto com fronteiras delimitadas. O jardim botânico é um lugar de deslocações, tal como se acolhesse uma colecção científica de espécies endémicas exportadas, catalogadas, ordenadas, que se tornam uma montra sensorial, uma atracção geográfica fora do seu lugar.
Esta exposição mostra como a paisagem expõe o modo de participação do homem enquanto transformador do seu meio, através da sua função de referente visual fundamental para os fins de desconstrução territorial. Esta realiza-se no momento em que o espaço de natureza recriada se transforma em espaço de exportação cultural ao carregar-se de referências, de símbolos, de denominações que se irão converter em objectos de souvenir cultural ou de apropriação. As paisagens botânicas, replantadas de um lugar para o outro – propondo-se como palco ou teatro – são o modo pela qual a artista recita as suas próprias histórias através da imagem de um território imaginado.
A paisagem faz-se imagem, uma representação que aqui é auto-referencial. A imagem que se pretende construir é em si um fragmento de um espaço imaginado, uma montagem espacial e temporal, tal como uma interface entre o fazer e o ver, ou seja, aquilo que se faz entre o observar-representar e o agir; entre o agir e o reobservar e o refazer.
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Carlos Carvalho Arte Contemporânea
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