Gonçalo Pena: Aberto — em torno de um glaciar

Galeria Luís Serpa (Lisboa)

inauguração: 16 de Outubro (18h)

Esta série de pinturas de Gonçalo Pena é o resultado de uma viagem filosófica ao pós-humano, ou seja, aos contornos pensáveis e, no caso de uma exposição figurativa, imaginários, da dupla materialidade que antecede e procede o homem e a sua máquina de representações lógicas, picturais e de ações históricas, isto é, à “ancestralidade” de que tanto escrevem os novos filósofos do “realismo especulativo”, mas também à posteridade do humano, intuitiva, postulável —segundo lógicas, geometrias e cálculos variados—, mas cuja antevisão é irrelevante para nós, pois nela já não viverá, nem pensará, o humano. E mesmo que outras consciências, extraterrestres, possam eventualmente existir, terão uma dificuldade extrema em perceber os restos que deixarmos impressos na poeira dos tempos.

Que melhor decisão, pois, para tamanho empreendimento, da parte de um artista, do que dirigir-se aos glaciares da Noruega com o livro Aperto, de Giorgio Agamben, na mochila?

In our culture, the decisive political conflict, which governs every other conflict, is that between the animality and the humanity of man. That is to say, in its origin Western politics is also biopolitics. — in Agamben, Giorgio — The Open [¶17 Anthropogenesis]

Os cartões de Gonçalo Pena em exposição testemunham, assim, uma viagem “naturalista”, “onírica” e “imaginária” ao cerne das preocupações filosóficas, estéticas e políticas da nova ameaça que pende sobre todos nós: a certeza de uma próxima metamorfose do humano cuja configuração pós-traumática desconhecemos, como sempre.

António Cerveira Pinto

+ info:

Galeria Luís Serpa Projectos

Rua Tenente Raul Cascais, 1B, 1250-268 Lisboa, Portugal


(C) imagem e texto: cortesia do artista e Galeria Luís Serpa, 2014.