Tatiana Macedo: Foreign Grey
Solar – Galeria de Arte Cinemática (Vila do Conde)
> 12.10.2014
Inauguração: 27.09.2014
A presente exposição resulta, nas palavras de Tatiana Macedo, de um trabalho fotográfico encomendado em Pequim e que serviu como oportunidade para se confrontar com uma nova realidade vivida nas suas relações fundamentais: laboral, temporal, comportamental, visual, sonora, linguística, social, natural. “Aceitei a encomenda de céus azuis e o disfarce de fotógrafa para usar cada intervalo de tempo que me permitisse filmar o que está ao lado e para além daquela visão contratada. Como se de uma terceira visão se tratasse, a de uma testemunha que é precisa no seu ponto de vista, capaz de pensar, escolher e agir: viver, passado e infinitivo”.
Natural de Lisboa, Tatiana Macedo trabalha entre Lisboa, Londres e Amesterdão. Licenciada em Belas-Artes pela Central St Martins College of Art & Design (Londres, 2004), no mesmo ano obteve o diploma profissional em Studio & Location Photography pela London College of Communication (Londres, 2004). Concluiu o Mestrado em Antropologia Visual da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Em 2012, Tatina Macedo completou o seu primeiro documentário experimental “Seems So Long Ago, Nancy”, que teve estreia Mundial na Competição Portuguesa do DocLisboa’12. O filme foi inteiramente rodado na Tate Modern e na Tate Britain (Londres, 2011) e teve exibições em festivais de cinema e galerias no Reino Unido, Holanda, Portugal, Espanha, Perú, Argentina e Macau.
Exposições individuais recentes incluem “Staff Only” no MNAC-MC- Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu do Chiado, (Lisboa 2013/2014). Destacam-se também as exposições individuais “Seems So Long Ago, Nancy” na galeria Tegenboschvanvreden (Amesterdão, 2014), exposições homólogas na Galeria do IPT, Instituto Politécnico de Tomar, (Tomar, 2013) e na Galeria 4 Windmill St. Gallery, (Londres, 2012) bem como “Like Picking Leaves in the Forest”, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, (Lisboa, 2012).
O seu trabalho está representado em diversas coleções nacionais e internacionais.
To Lose Everyday South
A memorização cumpre-se segundo o princípio de uma melodia, uma reposição, um tema insistente, uma variação, uma fuga, um contraponto.
A morte perfaz uma montagem em velocidade relâmpago das nossas vidas conjugando o nosso presente que é infinito, instável e incerto. A montagem consegue para a matéria fílmica aquilo que a morte consegue para a vida.
É impossível percepcionar a realidade enquanto ela se desenrola senão a partir de um único ponto de vista, e este pertence sempre ao sujeito que a percepciona. A realidade vista e ouvida à medida que se desenrola, é sempre no tempo presente.
Não existe viagem sem regresso. O presente torna-se passado: um passado que, por motivos meramente cinematográficos (e não estéticos) está sempre no modo presente (um presente histórico). A memória permite um fluir interminável de conexões. Se cada imagem conta uma história, então a acumulação destas imagens está mais perto da experiência da memória, uma história sem fim. Mas quanto mais nos aproximamos de uma imagem mais ela recua.
Trinta segundos de uma árvore não são trinta segundos de uma árvore. Em “Sud” (1999), uma árvore evoca um homem negro que poderá ter sido enforcado. Se mostrar uma árvore durante dois segundos, esta segunda camada não estará lá – será somente uma árvore. É a duração que estabelece isso.
As naturezas mortas de Ozu perduram, têm duração, mais de dez segundos de vaso: esta duração do vaso é precisamente a representação daquilo que perdura, através da sucessão de diferentes estádios.
É o tempo que leva à morte. Tirei duas horas da vida de alguém. Durante este tempo sentimos a nossa existência.
No exercício da viagem, o primeiro viajante que encontramos somos nós. Um símbolo consiste de um significante e de um significado mas também de uma terceira instância de mediação – o intérprete.
A primeira imagem de “La Jetée” é a do aeroporto de Orly perto de Paris. O avião edifica em termos metafísicos e filosóficos: sentimo-nos de súbito um fragmento de um enorme todo, um ínfimo pedaço de uma enorme mecânica que nos transporta e nos ultrapassa. Sentimos que pertencemos a esta terra, a estes elementos, mas a nenhuma nação em particular. Que idioma falar quando entramos no avião? O do país deixado para trás ou o do país de destino?
A alternância entre partidas e chegadas possibilita uma definição de habitar (a habitação não se resume à ocupação de um lugar). Conflito dentro do plano é um atlas em potência.
Tatiana Macedo, 2014
+ info:
Solar – Galeria de Arte Cinemática
(C) Texto e imagens: cortesia da artista e Solar – Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde, 2014.