Judith Hopf | On Time
> 26 de Outubro, 2014
Lumiar Cité (Lisboa)
Na sua primeira exposição em Portugal, numa colaboração entre o espaço Lumiar Cité e o Goethe-Institut, Judith Hopf apresenta uma instalação cinematográfica, dois filmes e um conjunto de esculturas produzidas durante a sua residência artística na Maumaus.
Com uma prática diversificada, que inclui a produção de esculturas, instalações, trabalho gráfico, performances e filmes, a obra de Judith Hopf reflete sobre as estruturas sociais normativas, explorando as fronteiras entre a participação social e a exclusão cultural. A artista mapeia o desvanecimento de formas de vida alternativa que existem para além de uma lógica de autodisciplina. Ao evitar a documentação social, Hopf utiliza a arte como um espaço autónomo, no qual instalações traduzem circunstâncias sociais observadas e experimentadas que podem ser feitas para “dançar”, recorrendo também ao slapstick e à caricatura para sabotar hábitos de simulacro nos processos de criação de significado dentro e fora do campo da arte, num tempo em que comunicação, trabalho e capitalismo parecem tornar-se cada vez mais fluidos (Daniel Pies).
Ao entrar no primeiro piso da galeria, um rebanho de ovelhas olha fixamente o visitante. Os seus “corpos” foram moldados por Judith Hopf com a ajuda de caixas de cartão normalmente utilizadas nas mudanças de casa. O “Zeitgeist” de noções de flexibilidade e disponibilidade para deslocação e mudança para onde quer que seja necessário construir a vida está congelado numa série de quase inamovíveis esculturas feitas de betão, em que diferentes posturas (Franz Kafka) de ovelhas deitadas e levantadas podem ser reconhecidas. De um modo bastante simples, Hopf desenha nas suas esculturas expressivos focinhos de ovelhas através de um só traço, evocando não só as caricaturas de Saul Steinberg da década de 50 (The New Yorker) – com as suas mensagens ilustrativas, normalmente pouco valorizadas pelo mundo artístico -, mas também a história pessoal deste artista judeu romeno, que ao utilizar os seus dotes artísticos para falsificar carimbos conseguiu escapar ao terror nazi. O rebanho de ovelhas sugere um condicionamento coletivo, um fenómeno também focado no filme “The Uninvited”, instalado nas proximidades. Aqui, o condicionamento de uma típica família nuclear europeia, com o seu “estilo de vida IKEA”, na luta para produzir espuma “cappuccino” no café da manhã, confronta-se com os fantasmas políticos presentes na arquitetura aplicada na reconstrução de Berlim, após a queda do Muro, estilo que possui reminiscências da arquitetura “Meat Market District” da cidade de Chicago do século XIX. Uma das cenas centrais do filme, em parte filmada num quarto e cozinha de um armazém da IKEA, é montada através de um sequência de stills em que peças de mobília voam num espaço interior, viradas ao contrário: um sonho (ou pesadelo) de um dos protagonistas que dorme no quarto da IKEA, que é uma cena inspirada na primeira frase do Manifesto Comunista de Karl Marx: “Anda um espectro pela Europa (…)”.
Judith Hopf desenvolveu uma instalação cinematográfica para a sua exposição no Kunstverein Karlsruhe (2007), procurando conciliar a necessidade de “luz” para ver a arte exposta num white cube com a necessidade de “escuridão” para projetar filmes e vídeos, criando a possibilidade de apresentar as duas “áreas” no mesmo espaço. Na sua exposição no espaço Lumiar Cité, esta instalação serve para produzir a escuridão necessária para projetar o curto filme “The Evil Faerie”, uma colaboração com o artista dinamarquês Henrik Olesen. Trata-se de um remake de um filme encontrado num arquivo cinematográfico em Berlim, dirigido em 1966 pelo realizador experimental americano George Landow, também conhecido como Owen Land, que fez parte do movimento do cinema estrutural, produzindo filmes com jogos de palavras e frequentemente assumindo uma posição crítica em relação ao “tédio” do cinema de vanguarda e questionando a sua própria prática. Tanto no original como no remake de Hopf e Olesen, um começo proporcionalmente demasiado longo, com uma apresentação de créditos infindável, resulta na documentação de uma performance do artista australiano Gerry Bibby no papel de Steven M. Zinc.
Judith Hopf (Alemanha, 1969) vive e trabalha em Berlim. Entre as suas exposições individuais destacam-se: “Cracking Nuts”, kaufmann repetto gallery (Nova Iorque, 2014); “Testing Time”, Studio Voltaire (Londres, 2013); Malmö Konsthall (2012); “end rhymes and openings”, Grazer Kunstverein (2012); “Türen” (com Henrik Olesen), Portikus (Frankfurt, 2007); e Secession (Viena, 2006). Das suas inúmeras exposições coletivas destacam-se: Liverpool Biennial (2014); dOCUMENTA 13 (Kassel, 2012); “How to Work (More for) Less”, Kunsthalle Basel (2011); “Slow Movement or: Half and Whole”, Kunsthalle Bern (2009); e “Draw A Straight Line and Follow It”, Tate Modern (Londres, 2008).
+ info:
Localização | Horários:
Lumiar Cité, Rua Tomás del Negro, 8A, Lisboa
Quarta a Domingo: 15h às 19h
Tel. + 351 21 755 15 70 | 21 352 11 55
Carris: 798 saída Rua Helena Vaz da Silva, 717 saída Av. Carlos Paredes
Metro: Lumiar (Saída Estrada da Torre)
(C) Texto e imagens: cortesia Lumiar Cité – Maumaus, 2014.