Guido Guidi | Veneto
Galeria Pedro Alfacinha (Lisboa)
25 de Setembro – 8 de Novembro
Inauguração: 5ª feira, 25 de Setembro (22h)
A Galeria Pedro Alfacinha inaugura na próxima quinta-feira, em Lisboa, a exposição ‘Veneto’ de Guido Guidi, é a exposição inaugural da galeria que abre as suas portas pela primeira vez. Entre os onze artistas representados, encontram-se cinco portugueses: André Cepeda, André Príncipe, António Júlio Duarte, Duarte Amaral Netto e José Pedro Cortes.
A exposição Veneto reúne trabalho nunca antes exposto ou publicado, o corpo de trabalho é constituído por uma selecção de 25 fotografias feitas na primeira metade da década de 80, período fundamental no trabalho de Guido Guidi. Fotografar = Habitar. Uma equação recorrente no seu trabalho. É por isso que grande parte das suas imagens são feitas nos lugares que ele mais frequenta: Emilia Romagna, região do norte de Itália onde nasceu e ainda vive, e Veneto, região vizinha, onde primeiro estudou (design industrial e arquitectura) e hoje ensina na mesma universidade. O resultado é uma combinação original de dois elementos aparentemente discordantes: análise e afecto. Como o primeiro tende a prevalecer sobre o segundo (tal como o amargo sobre o doce ou o preto sobre o branco), seria um erro simples considerar as suas fotografias frias e descomprometidas. Não é assim. A prevalência de linhas rectas, o equilíbrio das suas cenas e o cuidado até com o mais insignificante dos detalhes, não devem ser lidos como um desapego pelos assuntos mas, pelo contrário, como uma forma de melhor os descrever. A precisão é aqui, acima de tudo, consequência de uma relação íntima. Só depois se torna uma questão política: o inevitável respeito pelas coisas em si. Guidi não se limita a habitar os espaços representados pelas suas imagens, independentemente de onde são feitas, ele habita as suas próprias fotografias, é a sua visão que estabelece as suas fundações. O enquadramento corresponde ao processo de delimitação de perímetro inerente a qualquer forma de residência. O exterior transforma-se no interior, e o espaço geométrico é organizado de acordo com as preferências do habitante: tal como numa casa.
O Monte Grappa, representado em várias fotografias desta exposição, é um caso muito particular. Para além das bases militares que aparecem nestas imagens, que aqui mais parecem primitivas habitações cavernosas, no cume do monte existe realmente um ossuário com os restos mortais de mais de 12,000 soldados. Aqui travaram-se algumas das mais violentas batalhas da Primeira Guerra Mundial. As fotografias retratam-no como sempre foi, severo, branco do calcário, a natureza entrelaçada com os vestígios do Homem. No trabalho do Guido nunca vi a natureza representada de outra forma. Seja por modéstia ou por interesse, no seu trabalhoa natureza nunca é monumental, carrega inevitavelmente as cicatrizes de quem a atravessa, explora, preserva ou habita. São estes sinais comuns, vernaculares, que o
fotógrafo isola e documenta no Monte Grappa (os túneis, as mensagens, rastos que transformam a História em tantas outras pequenas estórias) e também nas vilas vizinhas ao maciço, onde todas as outras imagens nesta selecção foram feitas, no início dos anos 80. Ainda na região do Veneto num pequeno território a pouco mais de 70 quilómetros da capital, Veneza, que aqui parece estar a anos luz de distância. Aqui não há turismo, nem gôndolas, nem maresia. Só aqueles planos de meia distância que vieram a caracterizar grande parte da fotografia de paisagem italiana nos anos que se seguiram (enquanto o Guido se foi aproximando dos seus temas), assim como várias homages (à Arte Informal, a Friedlander, etc.) e toda a discreta intensidade do dia-a-dia.
Francesco Zanot
4 de Setembro de 2014, Bertinoro, área de serviço de Bevano Est, no regresso de casa do Guido Guidi.
+ info:
Guido Guidi nasceu em Cesena, Itália, em 1941. Estudou no Instituto Universitário de Arquitectura de Veneza (hoje IUAV), onde frequentou os cursos liderados por Bruno Zevi, Carlo Scarpa e Mario De Luigi, antes de se inscrever no Curso Superior de Design Industrial com Italo Zannier e Luigi Veronesi. Desde 1970 que trabalha no departamento de urbanismo do IUAV como fotógrafo, e ensina fotografia na Academia de Belas Artes de Ravenna desde 1989 e no IUAV — onde lidera o Laboratório de Técnica e Expressão Artística — desde 2001.
O seu trabalho foi exposto na Bienal de Veneza, no Fotomuseum Winterthur, no Centre Georges Pompidou, no Guggenheim Museum, no Canadian Centre of Architecture, no Whitney Museum of American Art, no MAXXI, e em muitas outras instituições de todo o mundo, ao longo dos últimos 30 anos.Colecções chave incluem o Canadian Centre of Architecture, Montreal, o Centre George Pompidou, Paris, o Fotomuseum Winterthur, o MAXXI, Museo Nazionale delle Arti del XXI Secolo, Roma, o Museo d’Arte Moderna, Bolonha, o Museo di Fotografia Contemporanea, Cinisello Balsamo e o San Francisco Museum of Modern Art, entre muitas outras.Em Janeiro de 2014, Veramente, uma importante retrospectiva, inaugurou na Fondation Henri Cartier-Bresson, Paris, antes de seguir para o Huis Marseille Museum voor Fotografie de Amsterdão, em Junho e para o Museo d’Arte della Città di Ravenna em Outubro. A editora MACK publicou um livro em simultâneo.
(C) imagem e texto sobre a exposição: cortesia de Pedro Alfacinha, Lisboa, 2014.