Contra/cto
> 13.09.2014
3 +1 Arte Contemporânea (Lisboa)
Curadoria de Bruno Leitão
Artistas: Carlos Nogueira, Felipe Ehrenberg, Los Torreznos, Sandra Gamarra, Sara e André
A 3+1 Arte Contemporânea, em Lisboa, apresenta até ao próximo dia 13 de Setembro a exposição Contra/cto. Comissariada por Bruno Leitão, esta mostra reúne artistas de contextos e percursos distintos como é o caso dos portugueses Sara & André e Carlos Nogueira, acompanhados por Sandra Gamarra (Peru), Los Torreznos (Espanha) e Felipe Ehrenberg (México), pela primeira vez apresentados em Lisboa.
The educated visitor should not show any surprise, anger, or enthusiasm while regarding the exhibition. It is best to adopt a calm, reserved and serene attitude at all times. On occasion, it is acceptable to nod the head, as if the work has been recognized.
Pablo Helguera in The Pablo Helguera Manual of Contemporary Art Style
Há um contracto velado para o que esperamos encontrar numa exposição e para a forma como nos comportamos e agimos dentro de um Museu ou Galeria, para o que esperamos encontrar nesse mesmo espaço. As distintas obras presentes nesta mostra expõem os limites desse contracto e fazem das suas fissuras, objecto de estudo. Estes sete artistas pretendem pôr em evidência as problemáticas dos espartilhos socioculturais e evidentes contradições dessas instituições que se pretenderiam abertas à discussão permanente desses limites que compõem o enquadramento limitado das instituições que acolhem e expõem Arte.
Esta exposição compõe-se em direcções distintas: desde a pintura de Carlos Nogueira que põe em evidência as linhas que compõem a própria galeria forçando o visitante a situar-se mentalmente nesta cenografia em branco que serve de suporte à própria obra, passando pelas instruções de Los Torreznos para os direitos e obrigações do público nesse mesmo espaço.
Desde a solenidade das gravuras de Sandra Gamarra sobre o momento de encontro com a arte até à performance de Felipe Ehrenberg que tentou entrar na Tate com um saco enfiado na cabeça e que acabou por ver o registo dessa mesma acção entrar na colecção daquela instituição.
Finalmente as pinturas e desenhos de Sara e André realizadas por outros autores que assumem o papel de meros executantes, todos estes protestos permitem ver por outro prisma aquilo que damos por garantido e a sintaxe a que recorremos quando estamos num espaço de arte. Tais limites são formalizados em obras que permitem pensar alternativas e manter aberta a discussão sobre o que esperamos encontrar numa exposição, de como deve ser concebido o trabalho de um artista ou o que deve ser objecto da sua pesquisa, juntando vários autores que pensam o objecto artístico, a sua recepção e o espaço em que essa recepção é feita.
Carlos Nogueira tem mantido uma investigação lírica sobre o potencial do lugar e uma performatividade que parte exactamente do encontro entre público, obra e espaço. Passando da performance para a objectualidade Nogueira tem mantido como interesse a criação de relações com o público seja pela presença do autor ou pela construção de um lugar no espaço expositivo.
Felipe Ehrenberg tem um percurso de mais de 50 anos expandindo-se por meios tão díspares como a pintura, poesia, escultura, fotografia ou performance. Fundou a editorial de livros de artista com cunho autoral colectivo Beau Gest Press (1971-1974). No México criou vários colectivos como o Proceso Pentágono, actualmente a residir em São Paulo cria performances em espaço público em que tudo pode acontecer e em que qualquer transeunte pode ser parte integrante.
Los Torreznos são uma dupla formada em 2000 que actua no campo da performance, vídeo-instalação e som. A sua abordagem humorística e directa permite-lhes pensar o social e o político centrando-se em questões chave como o poder da linguagem ou os códigos e expectativas no campo da arte a partir do choque entre o erudito e o popular.
Através do uso de fotografia, performance, escultura e vídeo, Sara e André têm como foco temas relacionados com a apropriação, autoria e legitimidade. Os seus trabalhos, estão baseados no estudo das fontes de produção e teoria de arte que dirigem a sua produção artística. Identidade e auto-representação são temas chave empregues na sua colaboração multi-disciplinar caracterizada por um tom irónico e provocatório.
Sandra Gamarra utiliza a pintura para construir um discurso que questiona primeiramente as formas de recepção, reconhecimento e valorização de algumas das mais célebres obras de arte actual e põe em evidência a peregrinação em torno das mesmas pela natureza contemplativa e religiosa que as envolve. Foi fundadora do LiMac: um museu fictício para o qual construiu uma colecção a partir de pinturas que realizou partindo de fotografias das exposições que visitava em todo o mundo num jogo de reapropriação e recompilação.
Bruno Leitão, 2014
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(C) Texto: cortesia do curador Bruno Leitão. Imagens: cortesia dos artistas e 3 + 1 Arte Contemporânea, Lisboa.