Jorge Santos: Marquise

> 13 de Setembro, 2014

Galeria Presença (Porto)

Olhar para cima

Olhar para cima e ficar cegos para depois acostumar pouco a pouco, o nosso olhar à luz. Finalmente a marquise como recurso para projectar sombras e proteger-nos dos raios solares. A partir deste momento, distinguimos o perfil das folhas, os ramos frondosos movidos pelo vento e os desenhos ou as manchas que eles compõem.

A marquise da qual Jorge Santos fala e que dá o nome à exposição, não é uma área de serviço envidraçada em casas e apartamentos, mas é uma estrutura que proporciona protecção, acesso, ligação, um dentro e fora ao mesmo tempo, um elemento arquitectónico característico do modernismo brasileiro.

A linha de trabalho que o artista apresenta para esta exposição, implica uma visão que é juntamente vernacular e cultural. Quer isso dizer que o seu processo de reconhecimento é proporcionado por uma intensa ligação a estruturas flexíveis de construção, de uso e imersão nos sistemas reticulares e orgânicos da arquitectura e da paisagem. As paisagens, a perspectiva ou tudo aquilo que o olhar abarcar, permitem outras viagens para outras superfícies e outros mergulhos em experiências sensíveis.

Tendo em conta as regras geométricas da construção da perspectiva assentes por Leon Battista Alberti no tratado De Pictura (1435), e a celebre metáfora do quadro-janela, Jorge Santos faz uso da superfície – em forma pictórica ou enquanto vídeo instalação – como se ela fosse um diafragma no qual a tridimensionalidade real traduz-se numa ilusória imagem bidimensional.

A analogia referida entre o quadro e a janela, surge relativamente à concepção mimética da pintura, que nas teorias artísticas modernas assume um valor cada vez mais articulado e complexo.

O trabalho de Jorge Santos move-se a partir destas preocupações. As pinturas de grande e pequeno formato assim como o vídeo são aberturas que, na sua semelhança a modelos arquitectónicos, mimetizam janelas ou remetem para elas.

A janela, na obra do artista, abre-se para o interior da mente, sobre outras dimensões, em direcção a territórios do imaginário ou acolhe no seu enquadramento, inéditas invenções plásticas e formais. E assim a superfície, no espaço definido pelas suas margens, permanece janela, com ou sem moldura.

E ainda a cor insinua-se para criar a condição de percepção, para possibilitar e empurrar-nos para um mergulho em direcção ao desejo do artista.

Este que Jorge Santos nos proporciona, é um mergulho literal e não apenas metafórico. O artista convida-nos a reflectir sobre o processo de execução e a fixação do tempo em forma de paisagem, bem como sobre o cuidadoso equilíbrio que se estabelece entre o sentir e a sua execução formal. A obra do artista deixa-nos num silêncio consolador e é ao mesmo tempo, pausa e descanso no vórtice perceptivo, um espaço para pensar, um lugar sensível à espera de ser descoberto em todos os seus pormenores.

Antónia Gaeta | Lisboa, Junho de 2014

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Jorge Santos

Galeria Presença

(C) imagens e texto: cortesia Galeria Presença, Porto, 2014.