Alexandre Farto (Vhils): Dissecção
Curadoria: João Pinharanda
Inauguração: 4 de Julho (19h)
Fundação EDP – Museu da Eletricidade (Lisboa)
> 5 Outubro 2014
Esta é a maior exposição do artista até à data
Dissecção é a primeira exposição individual de Alexandre Farto – de nome artístico Vhils – numa instituição artística portuguesa e a maior realizada pelo artista até à data. Patente no Museu da Eletricidade entre 5 de julho e 5 de outubro, a exposição irá apresentar um corpo de trabalho inteiramente novo concebido especificamente para o espaço, exterior e interior, do museu.
Em Dissecção, Vhils apresenta obras inéditas de grande dimensão, criadas especificamente para este projeto, que problematizam a memória coletiva das cidades, a vertigem das suas imagens, as histórias dos seus habitantes.
Apresentando-se como uma reflexão em profundidade sobre o espaço urbano em interação com os seus habitantes, Dissecção toma como ponto de partida vários dos elementos intrínsecos a esse espaço. A intenção do artista é estabelecer, através dos vários ambientes, criados expressamente no espaço do Museu, um percurso que permite vivenciar a passagem de uma dimensão de ruído, caos e saturação visual – que exprime a vida nas cidades contemporâneas – para um cenário neutro. Vhils propõe-se fazer uma dissecção metódica de elementos urbanos familiares com recurso a vários suportes não convencionais e técnicas destrutivas que tem vindo a explorar no seu trabalho.
Artista ainda jovem e de reconhecimento recente, mas já solicitado para intervenções em todo o mundo, Vhils não se limita a usar os muros da cidade como suporte ou a transferir mecanicamente as soluções plásticas do exterior para as telas, revelando grande capacidade global de intervenção e invenção de espaços e meios.
Esta é a primeira exposição individual de Vhils num museu e a mais extensa mostra de uma carreira que, sendo recente, está já espalhada por vários continentes. O trabalho de Vhils desenvolve-se a partir de um contexto historicamente marginalizado (aliás, em decadência desde os anos de 1970), com especial significado político e económico-social, a “Margem Sul”, do lado esquerdo do rio Tejo, dormitório e cintura industrial desenvolvidos frente a Lisboa. Aí nasceu e cresceu, aí estudou e construiu uma consciência artística que o leva a realçar e unir, no seu trabalho, os homens ao território, as imagens às arquitecturas abandonadas, as obras realizadas aos materiais dessas memórias de um tempo e um lugar de trabalho e de vida. O espaço urbano sufocante e os seus habitantes sufocados ou o reverso do glamour citadino, estão sempre presentes num trabalho onde os rostos surgem como uma espécie de “retratos”, num bilhete de identidade global dos deserdados e revoltados, verdadeiros protagonistas das obras de Vhils.
Vhils usa a décollage (técnica expandida nos anos de 1960 pelo nouveau réalisme parisiense), mas impõe uma inesperada sobreposição (encontrada, trouvée; ou forjada, auxiliada) de cartazes e a intervenção (por corte e novas sobreposições/colagens, que designa por enxertos) nas suas diferentes camadas, de modo a gerar uma imagética figurativa autónoma e aleatória, nascida sobre a imagética assertiva do discurso publicitário ou político dos suportes.
Usa ainda, no contexto da arte urbana ou de rua, a inscrição de rostos (ou outras figurações realistas, ou ainda palavras) sobre o suporte urbano de excelência que é a parede/muro, mas torna inesperado o método de desenho/inscrição por escavação/perfuração ou de micro-explosãoe o modo como assim descobre e revela as camadas escondidas e inesperadas das paredes.
E usa, finalmente, no contexto ainda dos grafitti as temáticas e os conteúdos sociais habituais dessa cultura urbana; mas sustenta uma inesperada representação dessa temática assente, não na enunciação geral de valores protestativos mas na relação profunda estabelecida com cada realidade social e histórica, num inquérito/análise das condições reais do meio onde vai intervir, no uso das imagens de alguns dos protagonistas locais (habitantes de bairros pobres em processo de demolição, deslocalizados, despojados, etc.) transformados, assim, em personificações de uma mensagem, rostos específicos e genéricos em simultâneo.
Os níveis que aqui classificámos como inesperados são, não apenas o suporte de novidade da intervenção de Vhils, mas a garantia da qualidade histórica e estética da sua obra. (…)
– João Pinharanda, curador da exposição
Alexandre Farto (1987), que também assina como Vhils, tem desenvolvido uma linguagem visual única com base numa estética do vandalismo derivada do seu background na pintura de graffiti. Trabalha a remoção das camadas superficiais de paredes e outros suportes com ferramentas e técnicas não convencionais, estabelecendo reflexões simbólicas sobre a vivência no contexto urbano, a passagem do tempo e a relação de interdependência entre pessoas e meio. A sua inovadora técnica de escavação tem sido aclamada pela crítica. Desde 2005 tem apresentado o seu trabalho à volta do mundo em exposições individuais e coletivas, eventos e instituições, e intervenções site specific. Tem participado em alguns dos mais prestigiados projetos contemporâneos de arte urbana.
+ info:
Vhils: Dissecção – Site da exposição
(C) imagens e texto: Cortesia Fundação EDP