Novo livro de Tito Mouraz: Open Space Office

A Making Art Happen recomenda o livro de fotografia ‘Open Space Office’ de Tito Mouraz

 Estas fotografias são pois fruto de um experimentado “olhar fotográfico”, que é aquilo que existe entre a técnica e a natureza. – Carlos Vidal

A série Open Space Office, segundo o seu autor, Tito Mourazfoi realizada em Portugal durante 3 anos, e representa uma paisagem transformada que reflecte a existência humana como ser que constrói, reconstrói e a contempla. A paisagem aparece-nos, irreversivelmente, transformada tendo sido esta transformação que despertou o meu interesse para a concretização deste projecto, tomando, deste modo, a própria paisagem e respectiva matéria como referência. Assim, estes trabalhos são acima de tudo representativos de uma realidade que sofre diariamente um processo acelerado de transformação. Portanto, as imagens não mostram mais do que uma realidade transitiva, numa paisagem natural paulatinamente em transmutação. São espaços imponentes únicos, de inegável impacto visual que conferem às imagens um grande conteúdo formal e plástico.

A seguir, excertos do texto Olhar-Escultor de Carlos Vidal 

Na entrada “Ruína/Restauro” da Enciclopédia Einaudi, Carlo Carena (citando outros) diz-nos que a paisagem é a natureza vista através da cultura. Depois do romantismo, que é imanentista (a verdade é intrínseca à arte, só a arte gera verdades) e anti-iluminista, certamente que nunca mais uma paisagem se libertou desta “natureza cultural”, em que estes dois pólos (natureza e cultura) configuram um pensamento próprio e uma forma de conhecimento. A natureza torna-se indissociável da presença humana, arquétipa e remota (digamos deste modo), tendo nela dissolvida e irmanada a marca humana (na terra) sob a forma de carcaças de edifícios e ruínas (que são vivas como os arbustos e as florestas, em suma).

Esta paisagem cultural romântica é realizada, em termos físicos, ideais ou ideológicos, para a contemplação. No belo assim harmonicamente expresso não há “feridas”, porque aqui a ruína é natureza (não foi absorvida, “fundiu-se” por vontade própria) e a natureza é um conceito, uma imagem cultural de um tempo e de uma sensibilidade – mas, para não haver feridas e para que, ainda que cultura, a paisagem seja paisagem de acordo com verdadeiras leis naturais (e romantismo e verdade tendem à sinonímia), ela deve despir-se de duas realidades, dois tempos: esta natureza aparta-se da idealização dos artistas franceses que marcaram a cena romana do século XVII (Poussin e Claude Lorrain) e do gosto burguês ora racional ora narrativo herdeiro de algum, de uma sua parte, do Iluminismo (Vernet, Hubert Robert).

 A paisagem romântica mitifica um encontro ou a miragem de um encontro sem confronto, como se não existisse industrialização, entre natureza e cultura que cessa, como disse, nos momentos em que desponta a tomada de posse da ciência pela indústria: um drama – primeiro, a ciência, diz-nos Heidegger, é secretamente tecnicizada, depois sucumbe à necessidade, à economia e, claro, à indústria. O poder.

 O que era da ordem da contemplação passa a suscitar medo (algo que estas fotografias não deixam de gerar, ou pelo menos uma perplexidade indisfarçável), medo e suspeição da razão, a qual no século XX será classificada como “instrumental” – medo, sonho, pesadelo e determinada sublimidade, que estas paisagens de Tito Mouraz, obtidas em pedreiras, não deixando de nos interpelar com o velho adágio de que o sonho (desta monumentalidade, por vezes desolada, outras abissal), o sonho da razão engendra monstros. (…)

O livro encontra-se à venda:

Site do artista

Livrarias:

Inc-Livros (Porto), Photobookcorner (Lisboa), Stet-livros e fotografias (Lisboa), XYZ Books Lisbon (Lisboa)

+ info:

Tito Mouraz

Open Space Office

artigo Open Space Office – Making Art Happen

Outros artigos sobre Tito Mouraz

Nas imagens: Livro Open Space Office, Edição Normal e Open Space Office, Edição Especial

(C) imagens e textos: Cortesia de Tito Mouraz e Carlos Vidal