Ana Jotta: How To Stay Alive in The Woods
26 de Setembro | 16 de Novembro (2013)
Galeria Belo-Galsterer (Lisboa)
Ana Jotta apresenta uma instalação composta por vários elementos num dos espaços da galeria. O título é altamente sugestivo, e reflecte a predilecção da artista por “jogos de linguagem” (Ricardo Nicolau) e torná-los parte integrante das suas obras (e exposições); também mostra bem a ironia e o espírito ‘subversivo’ do seu trabalho.
A sua formação fez-se na Escola Superior de Belas Artes, de Lisboa, e na École Nationale Supérieure des Arts Visuels de la Cambre, na Bélgica, no final dos anos sessenta. Pode falar-nos um pouco da segunda opção e que influência exerceu, esse período, no seu percurso?
Frequentei em Bruxelas a “École Supérieure d’Architecture et d’Arts Visuels de l’Abbaye de la Cambre”, o nome é comprido e com o tempo foram caindo palavras. Andei em tapeçaria que sempre teve tradição na Bélgica (teares verticais, “haute-lisse”). Não acabei.
Antes de se dedicar às artes visuais trabalhou no teatro, como actriz. O que ficou dessa experiência?
Trabalhei com as “Produções Teatrais”, ligadas à História de Teatro da Universidade Clássica; se quiser posso chamar-lhes teatro amador (amador, do amor, do prazer).
O desenho parece ter um papel importante no seu trabalho caracterizado pela utilização de vários meios. Volta sempre ao desenho?
Volta-se ao princípio.
É correcto afirmar que a sua vida se manifesta na sua obra? O que transporta do dia-a-dia para a sua prática? Ou simplesmente acontece, fruto do acaso?
A vida não é solta de mim; por isso, sendo viva, vou inscrevendo, fazendo o trabalho, que nunca é por acaso.
O que é que a arte lhe devolveu à vida?
Sou artista: Não há devoluções, nem acrescentos.
Pode dizer-se que existe um pendor do feminino na construção da sua identidade artística?
O meu sexo é feminino. Há só boa ou má arte, bom ou mau trabalho.
Que referências, de outras artes, são importantes para si?
Tudo se pode usar. O corpo é o melhor computador.
O que a apaixona?
Na resposta anterior.
Contaminar, desafiar, ironizar, surpreender são acções da pessoa e da artista?
Como lhe disse, a pessoa e a artista, não são duas.
Nesta sua intervenção na galeria Belo-Galsterer desafia-nos com um olhar critico e irónico – tão característico da sua obra – sobre o actual estado do mundo. ‘How to Stay Alive in the Woods’ não apresenta soluções mas reconhece que a sobrevivência é necessária ou melhor que estamos todos em modo de sobrevivência. Concorda?
Estamos em modo de subvivência. Subvivência. Não só aqui, o mundo está parecido, já não há países: Não sei se terá qualquer utilidade viajar. O tempo (do relógio) é irreal, as pessoas ignorantes, a informação é “formatada” em ficheiros de consumíveis-perecíveis. Para um artista trabalhador manual, é um milagre ainda ter luz em casa e poder pagar um sítio para trabalhar.
Esta intervenção transmite, também, um sentimento de desencanto perante esse estado do mundo. Quais são, actualmente, as suas maiores preocupações, como indivíduo?
Tento não ter esse tipo de preocupações.
Ana Jotta nasceu em Lisboa, em 1946. Vive e trabalha em Lisboa. Frequentou a Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e ingressou, posteriormente, na École d’Arts Visuels et d’Architecture de l’Abbaye de la Cambre, em Bruxelas. Realizou numerosos projectos e exposições individuais: Encore, GB Agency, Paris (2013), s/he is her/e, Chiado 8, Lisboa (2008), Holichite, 20 Arte Contemporânea, Lisboa (2008), Luna Parque, Lisboa 20 Arte Contemporânea, Lisboa (2006), Pintura, Pintura, Galeria Filomena Soares, Lisboa (2005); Rua Ana Jotta. Retrospectiva, Museu de Serralves, Porto (2005). Participou em diversas exposições colectivas desde 1979, entre as quais: A Entrevista Perpétua, Edifício AXA / Serralves, Porto (2013), Taking Time, MARCO – Museo de Arte Contemporánea de Vigo, Vigo (2007); Anos 80, Uma Topologia, Museu de Serralves, Porto (2007); En Voyage, Le Plateau, FRAC – Île de France, Paris (2006); 20+1 Artistas Portugueses nas Coleccións CGAC, Centro Galego de Arte Contemporánea, Santiago de Compostela (2004); Ecos da Matéria, MEIAC –Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo, Badajoz (1996); e Drawing Towards a Distant Shore, The Drawing Center, Nova Iorque (1994). Foi nomeada para o Prémio EDP Arte 2001. Está representada em diversas colecções públicas e privadas, nomeadamente: Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual), Lisboa; Caixa Geral de Depósitos, Lisboa; Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Fundación ARCO, Madrid; Fundação EDP, Lisboa; Fundação Luso-Americana, Lisboa; Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto.