Adriana Barreto: O Que Pode um Corpo
@ Cristina Guerra Contemporary Art (Lisboa)
> 04.09.2013
Curadoria: João Silvério
Na obra de Adriana Barreto, a relação com o corpo encontra uma genealogia multifacetada que integra as suas reflexões sobre os afetos, a palavra, o gesto, o ritmo e o corpo como processo de transformação na relação com a tensão do movimento do corpo no espaço. Todas estas formas de sentir e produzir o seu trabalho não se esgotam no que parece ser o enunciado anterior, porque estas formas não decorrem apenas de uma unidade de pensamento configurada pela formação de base da artista, a dança, mas de uma necessidade de refletir e ultrapassar os diversos estádios do seu processo de trabalho.
A obra “O que pode um corpo”, uma performance realizada na Cristina Guerra Contemporary Art, em Lisboa, desenvolveu o seu modus operandi, e regressa a si mesma explorando outros formatos apresentados na exposição. A fotografia, o vídeo e a edição de um livro revelam diferentes graus de registo e arquivo documental, reabilitando a atualidade do pensamento da Ética de Bento de Espinoza num questionamento filosófico sobre os limites do corpo, enquanto elemento que se reconhece pelas afeções a que é sujeito.
Conforme diz Espinoza, num determinado passo do segundo livro da Ética, “A mente humana não conhece o seu próprio corpo e não sabe que ele existe senão pelas ideias das afeções de que o seu próprio corpo é afetado.” Adriana Barreto não pretende confrontar-nos com as questões metafísicas que se desenvolvem no pensamento de Espinoza; contudo, reconhece na atualidade desse pensamento um confronto que se põe a si mesma. O livro editado e apresentado na inauguração da exposição é simultaneamente um catálogo, um arquivo da performance com o público e uma coletânea de três textos da autoria de Alberto Saraiva, Delfim Sardo e João Silvério. – João Silvério
Adriana Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1949, onde vive e trabalha. Atualmente pinta, desenha, cria instalações, performances, vídeos e fotografias. A sua biografia é marcada por exposições em diversas instituições, entre as quais se destacam: Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; MAM – Museu de Arte moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte; Museu de Arte Moderna da Bahia em Salvador; Brazilian American Cultural Institute, Washington; BIDE – Banco Interamericano de Desenvolvimento Económico, Washington e Oi Futuro Flamengo no Rio de Janeiro. Participou, em 1992, no Festival Internacional de La Peinture, Château Musée Grimaldi, em Cagnes-sur-Mer; e em 2001 na IV Bienal Barro da América no Centro de Arte Lia Bérmudez, Maracaíbo, Venezuela. Em 2012, apresentou, em Lisboa, no Museu das Comunicações a exposição “Agora Sim”, no âmbito da iniciativa “Portugal Brasil Agora” e na Cristina Guerra Contemporary Art a Performance “O Que Pode um Corpo”. Participou na exposição coletiva “Place of Residence”, em Xangai, sob a curadoria de Alfons Hug.