Yonamine (No Pain)

“Não é apenas no conteúdo que este artista é complexo e multifacetado. O seu modus operandi varia desde a colagem, à pintura, ao grafitti e ao vídeo, dedicando-se à tela como um construtor de mundos, destruindo unidades espaciais, temporais e materiais.” 

Carla de Utra Mendes, Lisboa 2010.  

Yonamine, No Pain, em exibição no Salzburger Kunstverein, vista geral da exposição, cortesia do artista, de cristina guerra contemporary art e Salzburger Kunstverein.

Salzburger Kunstverein

(Áustria)

até 16.09.2012

Yonamine trabalha com vários meios – pintura, desenho, graffiti, fotografia, vídeo e tatuagem – que depois reune em instalações que ocupam a totalidade do espaço expositivo. Podemos descrever as suas obras como diários, onde ele, da mesma forma que um arqueólogo, documenta diversas situações do passado, mas, também, do presente e de um futuro possível, criando um conceito de tempo sem limites. O seu trabalho pode ser comparado ao célebre rewinding dos dj’s, porque nos leva a estabelecer um vínculo com o passado sem nunca deixar de estar no presente.

Constrói as suas obras como quebra-cabeças, onde o processo de acumulação aleatório e de fragmentação é um espelho das nossas próprias vidas, todos temos identidades fragmentadas como espelhos partidos (como dizia Tennessee Williams -‘Glass breaks so easily. No matter how careful you are’). 

Yonamine, No Pain, em exibição no Salzburger Kunstverein, vista geral da exposição, cortesia do artista, de cristina guerra contemporary art e Salzburger Kunstverein.

“Somos o lixo do mundo”. Esta frase retirada do filme Fight Club (David Fincher, 1999) poderá ser aplicada quer à condição humana, especialmente na cultura contemporânea, quer igualmente à forma como certos artistas trabalham hoje em dia. No caso de Yonamine esta sentença tem um duplo sentido: pela via dos materiais que utiliza, reciclando memórias e objectos que vai encontrando no seu percurso, e pela forma como dirige uma crítica viva e humorística dos factos históricos e sociais do nosso tempo. Na altermodernidade, cunhada por N. Borriaud como proposta para a arte contemporânea, este tipo de estratégia denuncia um pendor para o inquérito como motor impulsionador de questionamento sobre aquilo que nos rodeia. Os artistas usam o mundo já existente em operações de pós-produção (edição, montagem, remixs, remakes), dotando as formas de uma nova vitalidade dentro de uma sociedade da reprodução e da cópia e resgatando o observador do seu estado adormecido perante os acontecimentos que, passando a ser mediatizados, se tornaram, muitas vezes, em fenómenos meramente estéticos. Yonamine duvida, questiona, e ao fazê-lo traz à superfície os espectros que voluntariamente deixamos adormecidos. Desta maneira, procede a um inquérito exaustivo e pessoal do material humano que está à sua disposição, resgatando as dores do mundo numa estética oposta a este sentimento: pop, viva, colorida, fresca e divertida.” Carla de Utra Mendes, Lisboa 2010.

Yonamine, No Pain, em exibição no Salzburger Kunstverein, vista geral da exposição, imagem cortesia de cristina guerra contemporary art.

Yonamine (n. 1975, Luanda, Angola) inicialmente, devido à guerra de Angola, viveu em constante movimento entre Angola, o Zaire (actual R.D.C), Brasil e Reino Unido. Atualmente, vive e trabalha entre Lisboa e Luanda. Esta é a primeira exposição de Yonamine na Áustria, onde apresenta uma seleção das suas peças mais importantes. Tem participado em várias exposições internacionais, entre elas a 29ª Bienal de São Paulo, 2010; o 9. Sharjah Biennial de 2009, o 10. Bienal de Havana, Kuba, de 2009; “transversal”, Centro Atlântico de Arte Moderno (CAAM), Las Palmas, 2008; “Check List Luanda Pop”, de 52 anos. Biennale di Venezia Bienal, Afrikanischer Pavillon, de 2007; “Réplica e Rebeldia”, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, 2006. É representado por Cristina Guerra Contemporary Art.

Yonamine, No Pain, em exibição no Salzburger Kunstverein, vista geral da exposição, imagem cortesia de cristina guerra contemporary art.

(…) “Para além de multiculturais, somos hoje, cada vez mais, interculturais,  regozijando de obras como as de Yonamine, podendo nelas reconhecer questões que vão para além do seu óbvio contexto e nos falam ao nosso sentido de humanidade, na sua acepção mais lata. Não é apenas no conteúdo que este artista é complexo e multifacetado. O seu modus operandi varia desde a colagem, à pintura, ao grafitti e ao vídeo, dedicando-se à tela como um construtor de mundos, destruindo unidades espaciais, temporais e materiais. Na sua síntese operativa, o artista funciona entre os pólos antagónicos entre o palimpsesto e a acumulação, deixando as obras num processo inacabado que cabe a cada observador completar. Recuperando o lixo, o sujo e o expressivo como uma forma criativa e livre. Verdadeiramente livre.” Carla de Utra Mendes, Lisboa 2010.  

Yonamine, No Pain, em exibição no Salzburger Kunstverein, vista geral da exposição, imagem cortesia de cristina guerra contemporary art.

Yonamine, No Pain, em exibição no Salzburger Kunstverein, vista geral da exposição, imagem cortesia de cristina guerra contemporary art.