Marc Behrens

A Magnet between Proteins and Sugar

> 14 de Março, 2015

Sismógrafo (Porto)

Há uma genealogia que une a exposição A Magnet between Proteins and Sugar, de Marc Behrens. É essa uma linhagem com elementos familiares, artísticos e musicais. Todos produzem aquilo que podíamos designar como uma política dos corpos, das imagens, dos sons. Há ainda uma outra dimensão: a proveniente das expedições na natureza e em locais simbolicamente relevantes. O trajecto tem origem na Alemanha e segue sobretudo os passos do pai e da mãe do autor. Convocam-se memórias de um tempo marcado pelas guerras, a segunda e a fria, que se lhe seguiu. Há histórias de espionagem e de sonhos por cumprir. Vêm depois os primeiros contactos com a arte: a Darmstadt de Beuys e também a de Cage, artistas com os quais a cidade procurou reconciliar-se: um mundo de fluxos, uma música nova. Nada seria como dantes: uma arte feita por todos, herdeira de Duchamp e de Satie.

É preciso seguir as linhas, para depois as desfazer: performances-tortura, arte animal, actos de guerrilha. Estamos entre quedas: um muro e duas torres, gémeas, por sinal. E aí, nesse espaço de tempo, outras guerras: Afeganistão, Iraque, Kosovo, Médio Oriente. Um ruído permanente de mísseis e de imagens virtuais. O todo em aceleração continuada, aqui e ali interrompido pela intensidade gerada em praças e ruas (Tahir, Syntagma, Wall Street), pela polifonia espectral da amazónia ou pelo vácuo do deserto. Entretanto, os trabalhos plásticos, gráficos e sonoros vão-se sucedendo rapidamente. Nunca abandonando a fita magnética e as técnicas de “cut-up” entra também o digital nas composições geradas em computador de que o recente disco em colaboração com Atom tm constitui um exemplo : trata-se de uma obra construída desde 1987 até 2013, onde cabem múltiplos géneros musicais: do tecno à música concreta, da canção às gravações de campo, do noise à electrónica.

Em “A Magnet between Proteins and Sugar” vai revisitar-se o percurso de Marc Behrens através de obras e documentos resgatados do seu arquivo pessoal. Cassetes dos anos 80, produzidas de forma artesanal, com recurso à fotocópia, colagens, edições limitadas, cartazes, trabalhos gráficos, experiências concretas, abstractas e informais, partituras, rituais e evocações de viagens e de histórias íntimas. São cerca de trinta anos que se alargam a muitos mais, tantos são os tempos convocados na exposição, no concerto e na audição que irão passar pelas salas do Sismógrafo. E se a montagem ou edição é um dos processos constantes no percurso deste autor podemos também afirmar que este procedimento serve precisamente para desmontar, para desregular, para desequilibrar os sentidos e as percepções, numa espécie de ars combinatoria formada por elementos recolhidos através das décadas de uma vida onde os encontros, as descobertas e os fantasmas se vão acumulando: Beuys, Cecil Taylor, Naked City, William Burroughs, Alejandro Jodorowskyi, Ho. Turner, Chris Keller…


actividades relacionadas:

14.03 (22h) – entrada livre – audição de peça sonora de Marc Behrens, composta para a ocasião.

+ info:

Sismógrafo

Marc Behrens

Marc Behrens (1970, Darmstadt, Alemanha). O seu trabalho desenvolve-se maioritariamente nas áreas da música electrónica e concreta, da instalação, da fotografia e do vídeo.

Enquanto músico, lançou, desde 1989, mais de 30 álbuns, e actuou não só em vários países europeus, mas também na África do Sul, Chile, Estados Unidos da América, Japão, China, Taiwan, Malásia, Austrália, Israel e Palestina. Entre os autores com quem já colaborou contam-se AtomTM, Miguel Carvalhais, Maile Colbert, Bernhard Günter, Nikolaus Heyduck (Behrens Heyduck), Yôko Higashi, Francisco López, Paulo Raposo, Pedro Tudela, Ho. Turner and Achim Wollscheid, entre outros.

Entre 2006 e 2010, Marc Behrens foi professor na Academia de Belas Artes de Saarbrücken, Alemanha e, entre 2007 e 2009 na Universidade de Artes Aplicadas de Darmstadt-Dieburg. No período de 2003 a 2007 foi co-director da editora de música Sirr, de 2006 a 2009 co-dirigiu a Associação de Música Contemporânea de Frankfurt (FGNM) e, entre 2010 e 2013, foi membro da Associação Cultural Granular (Lisboa). Berhens é ainda membro da Associação Alemã para a Música Electroacústica (DEGEM) e cidadão dos Reinos de Elgaland-Vargaland. Entre 1989 e 1993 dirigiu a editora Animal Art. Em 2014, fundou a sua própria editora de música Availabel.

Em 2013, Berhens escreveu a peça para rádio “Progress” em língua alemã para a Deutschlandradio Kultur, que aparece no seguimento de outros trabalhos para as emissoras WDR 3 e hr2-kultur.