Túlia Saldanha | CAM

Centro de Arte Moderna – Galeria 1 

Fundação Calouste Gulbenkian

> 28 de setembro de 2014

Curadoria: Rita Fabiana e Liliana Coutinho

Túlia Saldanha (Peredo, Macedo de Cavaleiros, 1930-1988) tem um percurso artístico atípico, iniciado tardiamente. Sem formação artística académica, o seu contacto com as artes plásticas dá-se em Coimbra, através do Círculo de Artes Plásticas (CAP), estrutura então pertencente à Associação Académica de Coimbra, de que se torna sócia em 1967, tendo como professores, em pintura, Nuno Bragança, Nuno Barreto, Ângelo de Sousa, João Dixo e, mais tarde, em educação visual, o escultor Alberto Carneiro. A sua ligação com este centro de formação, criação, produção e divulgação artísticas manter-se-á até ao fim da sua vida, tendo integrado o Conselho Artístico a partir de 1969, a direção e o corpo docente a partir de 1974 e sendo sócia fundadora do CAPC – Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, em 1980, quando este centro se autonomizou da academia conimbricense. O seu trabalho desenvolveu-se nas vertentes da criação artística, nas de direção e gestão das atividades desenvolvidas diariamente no CAPC e no âmbito da pedagogia, tendo o seu trabalho como educadora sido reconhecido, já mesmo no fim da sua vida, por um convite para estar presente na sétima edição da ARCO Madrid – ARCO 88 –, como participante de uma mesa-redonda realizada em torno da educação artística e do artista como professor. O percurso de Túlia Saldanha, no campo artístico e pedagógico, revela um posicionamento particular em relação à importância da experiência artística no desenvolvimento do ser humano e da vida em comunidade, num projeto que se mostrou também ser político e emancipatório do sujeito.

Esta exposição foca-se no percurso artístico e no conjunto da produção artística de Túlia construído num vaivém frutuoso entre uma prática individual e uma prática coletiva, a qual estava por mapear. Longe de pretender abordar de forma exaustiva a obra da artista, procedemos a uma seleção crítica das obras, evidenciando linhas de força, num percurso expositivo que nem sempre obedece à estruturação cronológica para privilegiar relações de proximidade e de ressonância entre as diferentes obras em exposição.

Do seu percurso de duas décadas (1968-1988), ainda que pontuado por várias exposições individuais e coletivas, poucos ou quase nenhuns catálogos foram publicados, sendo uma das exceções assinaláveis o catálogo-brochura editado pela Galeria Quadrum no contexto da exposição Travelling (1986), com uma texto-missiva e poema de Ernesto de Sousa (Lisboa, 1921-1988) sobre a sua obra e pessoa (ou pessoa e obra), prenunciador do que viríamos a confirmar ao longo da investigação: a quase impossibilidade de desassociar a obra da sua vida, intensamente vivida em torno da criatividade, da criação, do outro, «Sê[r] Outro, Outra», diria no mesmo texto o seu amigo e cúmplice Ernesto de Sousa.

Túlia Saldanha explorou os meios da instalação, da criação de ambientes, da performance, do desenho e da pintura, prática pela qual iniciou o seu percurso artístico e a qual viria a retomar com grande intensidade na sua etapa final. O seu trabalho, desenvolvido entre finais das décadas de 1960 e de 1980, acompanhou as transformações dessa época que se abria então à experimentação, ao alargar de fronteiras que levam a arte para fora das disciplinas tradicionais da pintura e da escultura, à defesa dos processos de produção artística enquanto obra e a uma relação estreita e de continuidade entre as experiências da arte e da vida.

 

Actividades relacionadas:

  • Domingos com Arte: 21 de setembro (domingo) às 12h00 | Visita orientada por Hilda Frias

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(C) texto: cortesia do CAM-Fundação Calouste Gulbenkian. imagem de destaque: Cortesia de Luísa Saldanha e CAM-Fundação Calouste Gulbenkian. Fotografias da exposição: Making Art Happen.