Justino Alves @ Bloco 103

Bloco 103 – Arte Contemporânea (Lisboa)

15.11 – 28.12 (2013)

No horizonte dos actos criativos que escolhas são possíveis de originar que respondam a um conceito de obra de Arte?

Que matriz nos identifica e que sinais propiciam o cruzamento de ideias e materiais?

É destas interrogações que vive o processo criativo, retomado vezes sem conta e em regra de resultado imprevisível.

O que vos mostro é a soma de avanços e recuos, sucessivas tentativas de ordenar a matéria e dar-lhe significado, acção de que resultam as pinturas elas próprias formas residuais do que foi tratado e esquecido em favor da exemplaridade da sua representação final.

Nesta exposição evidencio a centralidade da figura humana e o seu carácter simbólico num contexto que adequa o real a uma outra realidade propiciadora do acto criativo e dos interesses da sua expressão.

Nas vertentes da forma e da cor, alicerces fundamentais na construção da imagem e do seu poder de comunicação, as obras segmentam-se em actos de mais livre expressão e noutros em geometrias de maior rigidez envolvendo a composição.

É deste conjunto de acções e actos convergentes que se constrói a identidade e caracterização da pintura, cuja mais valia evoca a legitimação do acto criativo e o seu imaginário conceptual.

– Justino Alves (30.09.2013)

Desde muito jovem assumi a Pintura como espaço adequado à sensibilidade que sempre me acompanhou, e o meio por excelência que possibilitaria concretizar uma obra de autor.

No desenvolvimento da Pintura e ao longo do tempo foram sendo construídos ciclos temáticos ou seja, conjuntos formalmente mais ou menos próximos com especial relevo para os seguintes: – Formas e Espaços – Formas Símbolo – Composição – Composição N/M – Formas Figuras – Formas Planas e outros.

A partir destes enquadramentos a Pintura seguiu o seu ritmo, evoluindo no contexto de cada opção temática, sobressaindo do seu exercício imagens de proximidade simbólica à realidade ou sugestões abstraccionistas desenvolvidas no plano.

Todo o método e a sua génese apoiam-se no confronto da matéria, da geometria que a sustenta e caracteriza, no aprofundamento técnico e nas acções que constroem o “quadro” e o seu alinhamento tanto formal como semântico.

É no decorrer destas relações a que se soma um forte conjunto de hiatos experimentais, que por vezes encontro a chave para uma outra tipologia de imagens, ponto de partida para uma nova incursão no plano da criatividade.

Assim se foram concretizando as várias etapas e movimentos, cuja unidade se situa na transferência de um mesmo Universo – de quadro para quadro – recriando sucessivamente o acto de pintar.

Desta realidade, das suas marcas estigmas e sinais, prevalece uma caracterização cognitiva comum – das primeiras às últimas Pinturas – certificando uma identidade o seu percurso e as escolhas que privilegiou.

– Justino Alves

João António dos Santos Justino Alves, natural do Porto, nasceu no dia 30 de Setembro de 1940. Obtém o diploma do Curso Complementar de Pintura na Escola Superior de Belas Artes da Cidade Invicta, com a classificação de 19 valores. Mais tarde conclui, também, o curso de Ciências Pedagógicas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Depois de uma experiência como docente no ensino liceal e técnico em Bragança, Porto e Espinho, parte em 1967 para a Madeira, aceitando o desafio de ser o director da Academia de Música e Belas Artes da ilha. Após três anos, regressa ao continente, onde lecciona as cadeiras de Iniciação à Pintura, Pintura III, Desenho de Modelo Vivo e Composição de Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. A sua experiência como docente acontece em paralelo com a pintura, já que realiza, ao mesmo tempo, várias exposições individuais (a primeira em 1965, no Museu Abade Baçal, em Bragança) e colectivas (também em 1965, na Galeria Domingos Alvarez, no Porto, juntamente com João Vasconcelos). Aliás, 1965 acaba por ser um ano significativo na sua carreira em termos de afirmação pessoal, já que conquista a Medalha de Prata da IV Mostra D’Arte, em Roma (quatro anos depois é distinguido com o Prémio Nacional de Pintura). Em 1976, parte para Paris onde reside, durante cerca três anos, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, sob a supervisão do pintor Pierre Soulages (é na Cidade Luz que conhece, entre outros, Vieira da Silva e Arpad Szenes). Regressa em 1978, confirmando, desde então, a sua obra como uma das mais importantes da história da arte contemporânea portuguesa. É membro titular honoris causa da Academia Europeia de Belas Artes.

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Bloco 103 – Arte Contemporânea

(C) imagens e texto, cortesia: Bloco 103 – Arte Contemporânea, 2013.