António Júlio Duarte (‘Japão 1997’)
21 de Setembro – 22 de Dezembro (2013)
Centro Cultural Vila Flor (Guimarães)
Esta exposição do artista e fotógrafo português António Júlio Duarte é composta por uma série de impressões fotográficas selecionadas a partir de um vasto corpo de trabalho fotográfico, que data de 1997 e que nos é também apresentado sob a forma de provas de contacto. Ao incluir estas últimas no contexto expositivo o artista faz, pela primeira vez, um tratamento pormenorizado e abrangente de uma parte essencial da sua obra, estruturando o seu visionamento e avaliação a partir não apenas dos seus resultados finais (as fotografias que o artista decide expor e ordenar sob uma prisma de uma qualquer narrativa ou discurso) mas também do seu trabalho preparatório de pesquisa, montagem e decisão com intencionalidade artística, elementos cartográficos de compreensão da obra que aqui se assumem explicitamente sob a forma de provas de contacto.
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As fotografias de António Júlio Duarte não precisam de ser comentadas. Não seguem uma metodologia definida de trabalho, nem fazem parte de um processo apurado de construção racionalmente calculado. São, antes, o resultado de uma busca, uma procura motivada por um certo espírito de nomadismo, realizado a partir de deambulações diárias pelos espaços urbanos do nosso quotidiano. Esta movimentação predispõe o autor a fixar acontecimentos, situações e momentos seguindo um estado sensível de observação ao qual se deixa submeter. Quando, nodecorrer desses itinerários, lhe surge algo significativamente forte ou suficientemente atrativo acontece uma espécie de corte, de rutura, de interrupção na corrente de envolvimento subjetivo a que o artista se encontra sujeito, estabelecendo um compromisso com o real. O compromisso alcançado com esta realidade, interferindo de maneira incisiva com a sua atenção, leva-o a proceder à sua captação.

Osaka #363 – #374 (pormenor), 1997. Prova de contacto 24 cm X 30,5 cm. Brometo de prata sobre papel plastificado. © António Júlio Duarte
O conjunto das imagens expostas sugere uma narrativa de exploração pessoal, manifestada numa sequência de campos de observação, percecionados como registos de um diário secreto. Esta ideia de ordenação diarística, sem um caráter declaradamente autobiográfico, transforma-se numa sensação de princípio/ começo ou de fim/ final inscrita numa viagem pessoal, sempre incompleta e inconclusiva, sempre obscura e estranha, pelos espaços banalizados, exaustos da proliferação de imagens quotidianas. Através de cada registo imagético, manifesta-se o instante captado, sem a preocupação de se criar um conteúdo fotográfico intencionalmente ligado ao real. As fotografias surgem como cortes, interrupções e ruturas de continuidade, várias incidências captadas de um acontecimento que, sendo passado, ficará para sempre incompleto, truncado, disperso e incompreensível. Compreender a falta de dados informativos sobre o que deixou de ser presente requer um complexo exercício de abstração. Só abdicando do conhecimento das verdadeiras correlações espaço temporais dos lugares fotografados nos situamos em cada um das imagens presentes e, a partir do vazio causado pela escassez de referências fazemos uma construção imaginosa, assente num estranho sentimento de impotência, provocado pelo confronto entre a imagem observada e a verdade inacessível.
António Júlio Duarte (n. 1965, Lisboa, Portugal). Estudou fotografia no Ar.Co, em Lisboa, entre 1985 e 1989, e no Royal College of Art, Londres, Reino Unido, em 1991, enquanto bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.
+ CV
+ info: Centro Cultural Vila Flor
A saber: No dia da inauguração, dia 21 de Setembro, será lançado o livro “Deviation of the Sun” de António Júlio Duarte.
(C) imagens, cortesia: Centro Cultural Vila Flor
Fotografias da exposição © Paulo Pacheco