Ana Léon | José Pedro Croft

Ana Léon | José Pedro Croft

Sem título (uma dupla de artistas)
Vídeo e Escultura

Carpe Diem Arte Pesquisa (Lisboa)

> 17 de agosto (2013) 

Ana Léon e José Pedro Croft expõem um projecto conjunto no espaço Carpe Diem Arte e Pesquisa, localizado no Palácio Pombal, em Lisboa, e que foi o ponto de partida para este projecto, como se de uma dupla de artistas se tratasse, reunindo afinidades e reencontros entre as duas práticas artísticas. É pertinente recordar que estes dois artistas pertencem à mesma geração e que o interesse pela espacialidade e pela imagem tem constituído um traço comum ao seu trabalho. Contudo, no decorrer das suas carreiras têm desenvolvido pesquisas e propostas diferenciadas, em termos de meios e de poéticas, que nos conduzem a diferentes campos da representação.

O espaço, e principalmente o local, onde os dois artistas partilham este projecto, o Palácio Pombal, tem um importante vínculo histórico à cidade de Lisboa e principalmente uma relevância simbólica e arquitectónica que ambos integram nas obras expostas. Por outro lado, a imagem em movimento, entre o vídeo e a escultura, cria uma correspondência entre duas tipologias de procedimentos que relacionam a espacialidade com o lugar, e desta forma com o imaginário individual enquanto receptor e activador das obras. Uma outra categoria à qual não escapamos, o tempo, é tratada pelos dois artistas numa evocação da memória do lugar e simultaneamente do corpo como medida dessa temporalidade inscrita em cada obra.

Nas três obras em suporte vídeo, de Ana Léon, encontramos de imediato uma dupla relação com o espaço, que se distende entre o campo visual da imagem filmada e a sua projecção sobre as paredes do Palácio. Uma das obras, intitulada ‘Desmontagens’ (2013), apropria-se de imagens de um filme/documentário realizado por Solveig Nordlund sobre o trabalho de José Pedro Croft, criando uma narrativa fragmentada entre o documento e a animação cinematográfica, recorrente no seu trabalho, e que reconhecemos nas outras duas obras expostas, ‘Se Plier’ (2012) e ‘Disparaître’ (2012-2013). Este carácter descontínuo, marcado pela montagem das imagens projectadas de Ana Léon, reencontra a obra de Croft nos planos de vidro e espelho que constituem parte das suas esculturas e absorvem os interiores do Palácio, entre a imagem reflectida e a imagem ficcional que o espectador vai construindo em torno das esculturas, movendo-se no espaço da exposição. Há uma lógica interna ao procedimento dos dois autores que constrói no espectador uma noção de duplicidade do espaço e da figura humana, seja esta retomada nos movimentos repetitivos das figuras e dos fragmentos apropriados, presentes nos vídeos de Ana Léon, ou no reconhecimento de nós próprios que nos afecta no confronto com as esculturas de Croft, cujos planos reflectores activam a ideia de imagem em movimento e contrariam a verticalidade da escultura como ecrãs em permanente desequilíbrio sobre o interior das salas em que se encontram expostas.

Por outro lado, a evocação da memória do lugar, que já aqui referi, ocorre de forma diversa nos dois autores, mas remete, em ambos, para a integração do objecto e da pertença em cada obra. No vídeo ‘Desmontagens”’, de Ana Léon, as imagens das esculturas de Croft são sujeitas a uma transformação que oscila entre o recorte e a sua integração numa quadrícula onde encontramos uma referência ao lugar reflectido nos espelhos dos contentores, uma obra que Croft realizou no espaço público, junto ao rio Tejo. Nas esculturas de José Pedro Croft somos confrontados com objectos de que já resta apenas o indício da sua função num determinado lugar, sejam estes um cavalete que se transforma em base e constructo escultórico, ou um par de portas, outrora pertencentes ao Palácio Pombal, que estruturam uma das duas esculturas expostas.

Neste projecto, a dupla de artistas percorre em várias salas um caminho de desdobramentos e duplicidades, como uma dobra barroca que os atravessa e nos confronta. – João Silvério (Maio 2013)

Ana Léon nasceu em Lisboa em 1957. Vive e trabalha em Paris. As suas obras estão envoltas entre filmes, pinturas, desenhos e esculturas. Tem exposto individual e colectivamente desde 1982. As suas obras estão representadas nas colecções do Centro de Arte Moderna de Fundação Calouste Gulbenkian, Caixa Geral de Depósitos (Paris), Galeria Quadrado Azul (Porto e Madrid), Museu de História Natural (Lisboa), Museu da Presidência da República (Viana do Castelo e Lisboa), New Center of Contemporary Art (Moscovo), Centro de Artes Plásticas de Coimbra, Livraria Chapitre XII (Bruxelas), Théatre du Rond Point (Paris).

José Pedro Croft nasceu no Porto em 1957. Vive e trabalha em Lisboa. A sua obra transmite sem hierarquias entre escultura, desenho e gravura. Expõe, regularmente, deste 1981. Está representado nas colecções do Centro de Arte Moderna de Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Fundação de Serralves, Ministério da Cultura (Portugal), Fundação La Caixa (Espanha), Caixa Geral de Depósitos (Portugal), Fundació La Caixa (Espanha), Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Espanha), Fundação Berardo (Portugal), Fundação Elipse (Portugal), Banco de España, Banco Central Europeu, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Brasil), Sammlung Albertina (Áustria).

(C) imagens: Cortesia de Carpe Diem Arte e Pesquisa