Rui Chafes | ‘Tranquila ferida do sim, faca do não’

Rui Chafes, da exposição 'Tranquila Ferida do Sim, Faca do Não' na Galeria Filomena Soares, Lisboa, 2013. © Rui Chafes. Cortesia da Galeria Filomena Soares.

Rui Chafes, da exposição ‘Tranquila Ferida do Sim, Faca do Não’ na Galeria Filomena Soares, Lisboa, 2013. © Rui Chafes. Cortesia da Galeria Filomena Soares.

Galeria Filomena Soares

> 25.05.2013

Rui Chafes (Lisboa, Portugal, 1966), apresenta, em Lisboa, na Galeria Filomena Soares a exposição individual intitulada ‘Tranquila ferida do sim, faca do não’. Para ver até ao dia 25 de Maio. 

 

Um espaço, dependendo da sua estrutura geométrica, poderá ser investido de uma dimensão sacral que, normalmente, está ocultada. Muito mais difícil do que enchê-lo é esvaziá-lo, virá-lo do avesso, operar a sua inversão de forma a aproximá-lo do \”quase nada\”, do \”antes do nada\”. Torná-lo magro, como queria, desesperadamente, Alberto Giacometti. Um espaço austero, de redução e ascetismo, de total despojamento e esvaziamento. Não podemos ter medo do vazio, do silêncio e da ferida. A dimensão abstracta da religião passa, também, por essa coragem.

Trata-se de encher o vazio com o vazio, não de o encenar. Cada escultura é um núcleo cerrado, retraído, fechado para dentro, obscuro, concentrado; um espaço vazio, de clausura, uma prisão fechada sobre si mesma. Cada uma é um cárcere vazio, onde a luz se dissolve nas estreitas frinchas que definem a sua estrutura: uma concentração de escuridão que absorve a luz e o espaço. As suas escuras fendas são feridas íntimas, entradas íntimas para a obscuridade do corpo.

Uma escultura, no seu retraído formalismo e na sua impessoalidade icónica, cria um lugar hierático e rígido, um núcleo de redução, austeridade e ascetismo, uma transcendência através da depuração, da pobreza próxima da essência. Ausência de encenação: o vazio dentro do vazio. Ela não é só um objecto, é, também, a sua relação com o nosso corpo, a escala do confronto entre a nossa dimensão e o seu tamanho. Faz-nos pensar, também, a distância que percorremos até chegar ao pé dela, o tempo que demoramos, a consciência total do espaço que atravessamos e que, havendo a necessária coragem e confiança, nos levará a saber que \”a primeira coisa a morrer são os olhos\. – Rui Chafes (Lisboa, Fevereiro 2013)

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Rui Chafes, da exposição 'Tranquila ferida do fim, faca do não' na Galeria Filomena Soares, Lisboa, 2013. © Rui Chafes. Cortesia da Galeria Filomena Soares.

Rui Chafes, da exposição ‘Tranquila ferida do fim, faca do não’ na Galeria Filomena Soares, Lisboa, 2013. © Rui Chafes. Cortesia da Galeria Filomena Soares.