Sara & André: Greve

Sara e André com a participação de André Banha, Sem título, 2013.

Sara e André com a participação de André Banha, Sem título, 2013.

3 + 1 arte contemporânea

>> 16.03.2013

Sara & André: Greve

(com a participação de André Banha)

Privem-se ou privatizem-se

Depois de uma década de crise heis-nos entrados no 3º Ano da Graça de Nossa Senhora da Austeridade. 

Cultura é termo que provoca urticária à tropa da troika. Os artistas são compelidos a mendigar apoios de excelsos privados alimentando-se de esperanças e ar. Privem-se ou privatizem-se, consumam-se ou sejam consumidos, entendem os generais da tropa. A arte é para ser servida e consumida sobre corpos esqueléticos dos que não escaparam aos cortes e para gaúdio dos seus abutres. É o mercado, dizem. Aquele mercado que consome o artista até à última gota de sangue mas ao qual todos querem vender.

Os poucos artistas a quem é permitido entrar na festa não hesitam em afirmar as suas distâncias para com os que ficam à porta. Ao Auto de Fé, vulgar proclamação de ser apolítico e/ou independente de tudo, segue-se a encomenda para embelezar a última festa do palácio do Paço. Exibe-se o radicalismo chique, e amedrontado, em que tudo é tolerado menos malpensar ou malfazer. A redenção para com a arte trata-se com pontuais actos de caridade com quem jaz à porta dos palácios mas, no dia da greve, observam de longe destilando o preconceito. 

A greve bloqueia, por momentos, o ciclo de produção afectando a cadeia de consumo. Aos seres humanos, aproxima-os ou afasta-os. Derruba falsas barreiras de classe e clarifica o fosso entre exploradores e explorados – os amedrontados desaparecem nos interstícios. Mostra-nos que todos somos necessários para que tudo se movimente. 

A greve destrói a barreira entre povo e artista e, também por isso, incomoda. Mesmo que proclamada pelo propósito mais particular, trata do que é comum ao colectivo que a declara. Jamais se poderá declarar apolítica ou independente.

Por isso, greve é malpensar. É malfazer.
Privatizemo-nos, pois.

Tiago Mota Saraiva, 2013

3 + 1 arte contemporânea

Rua António Maria Cardoso, 31

Lisboa

T: 210170765

(C) imagens: cortesia de 3+1 arte contemporânea.