A Origem das Espécies | Jorge Molder

© Jorge Molder
25 Abril – 22 Junho 2012
Guardini
Berlim, Alemanha
Jorge Molder é um dos artistas portugueses mais reconhecido internacionalmente. Participou nas bienais de São Paulo (1994) e Veneza (1999) e esteve representado em várias exposições internacionais. Em 2010, foi premiado com o Grande Prémio EDP Arte.
Uma das questões mais importantes para Jorge Molder é o absurdo inscrito na vida quotidiana. Na maioria dos casos, ele retrata essa realidade através da sua própria imagem. Embora, numa leitura rápida, as suas obras se possam identificar com auto-retratos, na realidade não o são no sentido literal. É uma personagem encenada que ele fotografa e que executa um repertório de gestos, assumindo uma variedade de experiências culturais, filosóficas e científicas.
“Numa primeira abordagem, é frequente que se entenda a produção artística de Jorge Molder como um exercício continuado sobre o auto-retrato. De facto, exceptuando o período compreendido entre 1977 – data que marca o início da apresentação pública da sua obra – e o princípio da década de 1990, a maioria das fotografias que este artista tem vindo a produzir tem no seu próprio corpo a matéria de eleição. Em rigor, aquilo que nos é dado ver nestas imagens são partes do corpo do artista – com maior incidência no rosto e nas mãos –, que se apresentam em interacção com um criterioso conjunto de objectos, o primeiro dos quais a câmara fotográfica. Obviamente, quando pensamos em figuração de rostos e de mãos torna-se quase impossível resistir à tentação de fazer passar este tipo de iconografia pelo filtro da secular tradição retratista. Contudo, a noção de interacção que acima invocámos – aqui oposta à noção comum de pose – é de suma importância para afastar o trabalho de Jorge Molder do universo particular do auto-retrato e aproximá-lo da prática genérica da auto-representação.” Bruno Marchant, curador

© Jorge Molder
A sua mais recente série, ‘A Origem das Espécies’ (2011/12), que deu título à exposição, é exibida na Alemanha pela primeira vez e pode ser entendida como um resumo de trabalhos anteriores. A segunda série, Pinóquio (2006-2009), é composta por 27 fotografias a preto e branco. Molder interpreta uma espécie de arlequim – como no famoso quadro de Watteau.
“Molder é muito hábil no jogo circunstancial da ficção. A sua arte sabe bem do seu enraizamento num mundo real (o do próprio rosto, que é o seu). Sabe igualmente da presença (omnipresente) desse mundo. Por isso, cada rosto tomado representa um desvio, um afastamento, uma distensão (quase, senão mesmo, muscular), uma irregularidade, um erro (que sempre se envolve com a cápsula de uma atenuante), um desregramento focado sobre uma intencionalidade directa. O auto-retrato é muito isso; ou é também isso. Lugar isolado dentro de um rosto, afastado, à parte. Em fuga, depois da festa que foi o prelúdio a esse mesmo rosto.” João Miguel Fernandes Jorge
Jorge Molder (Lisboa, 1947). Estudou Filosofia. Vive e trabalha em Lisboa, Portugal.
imagens: © Jorge Molder