O teatro contra o fanatismo

imagem do espectáculo ‘Sul concetto di volto nel Figlio di Dio’ de Romeo Castellucci, Festival de Avignon 2011, © fotografia de Raynaud De Lage
Decorreram, em Paris, reacções violentas e ameaças, à apresentação do espectáculo ‘Sul concetto di volto nel Figlio di Dio‘ de Romeo Castellucci, no Théatre de la Ville. Esta peça de teatro foi apresentada, este ano, no Festival d’ Avigon.
Vários grupos fundamentalistas cristãos foram os responsáveis pelos distúrbios, acusando o encenador de desrespeito pela imagem de Jesus. Vários grupos extremistas juntaram-se à causa do Civitas (primeiro grupo responsável pelas desordens), gerando pequenos tumultos no centro da cidade. Segundo o encenador: “Não há nada de blasfemo nem de ‘cristianofóbico'”; “estes activistas não podem saber porque não viram o espectáculo”; “Pode-se ver o espectáculo como um canto de amor por Cristo, que é o caso de alguns espectadores”.
A igreja católica e o ministro da cultura francês condenaram estes actos de violência. No dia de estreia, o espectáculo chegou a ser interrompido pelos activistas, a policia teve de intervir e reforçar a segurança do teatro nos dias a seguir. O director do teatro, Emmanuel Demarcy-Mota e a sua equipa não cederam às intimidações e o espectáculo foi apresentado.

imagem do espectáculo ‘Sul concetto di volto nel Figlio di Dio’ de Romeo Castellucci, fotografia La Biennale di Venezia – biennale de teatro 2011,
Em solidariedade com Emmanuel Demarcy-Mota e o Théatre de la Ville porque o teatro (e as outras formas de expressão artística) devem ser palco de liberdade, livres na sua expressão, escolha e ação.
“No teatro, a verdade esquiva-se sempre. Nunca a encontramos por completo, mas é forçoso procurá-la. Essa busca é claramente aquilo que guia os nossos esforços. É essa a nossa tarefa. Na maioria das vezes é no escuro que tropeçamos na verdade, esbarramos nela, ou vislumbramos uma imagem ou uma forma que parece corresponder à verdade, muitas vezes sem nos darmos conta disso. Mas a verdade verdadeira é que, na arte do teatro, não há nunca uma verdade única que possamos encontrar. Há muitas. Estas verdades desafiam-se mutuamente, fogem, reflectem-se, ignoram-se, espicaçam-se, são insensíveis umas às outras. Às vezes pensamos que temos a verdade de um momento na mão, e depois ela escapa-se-nos por entre os dedos e desaparece.”
Harold Pinter, in “Discurso de Aceitação do Prémio Nobel”