Miguel Palma: Dentro de nós, só Deus sabe
A Montra (Lisboa)
> 09.03.2014
A Montra (situada na Calçada da Estrela, número 132) é ocupada, cada mês, por um artista que produz uma obra específica para aquele lugar com características muito particulares; sendo um dispositivo que privilegia a observação do trabalho através de um vidro e por quem passa na rua, a qualquer hora do dia ou da noite, o projecto no seu decorrer funcionará como uma acção subtil de intervenção na cidade. Um rumor urbano.
A Montra é um projecto que surge na sequência da situação actual em que observamos uma crescente desocupação do espaço um pouco por cada bairro da nossa cidade. Por onde passamos verificamos o encerramento de mais uma loja, com papéis a taparem os vidros das montras. Vende-se ou aluga-se. O país?
Num segmento da Calçada da Estrela, as lojas ali instaladas há várias décadas: a drogaria, o pronto-a-vestir, os electrodomésticos ou a mercearia com frutas cristalizadas, fecharam todas. A Farmácia e a Pastelaria resistem. É aí, entre estes dois espaços, que A MONTRA se encontra, o que não deixa de ser irónico, pois poderíamos pensar que é precisamente como o país sobrevive: entre o Pastel e a Pastilha.
Ao longo de um ano A Montra será ocupada por doze artistas. Luisa Cunha inaugurou o ciclo de intervenções com I’ll be Back, no dia 5 de Outubro de 2013.
Direcção: Benedita Pestana
Apoio Curatorial: Maria do Mar Fazenda
Intervenção | Fevereiro 2014
Miguel Palma: Dentro de nós, só Deus sabe
Para a montra o artista Miguel Palma propôs a construção de um dispositivo de observação do interior do corpo humano. Para isso, preencheu a superfície do vidro com radiografias do corpo humano e optimizou a sua leitura através da construção de uma caixa de luz no interior da loja.
É uma peça que funciona tanto de dia como de noite.
O artista inspirou-se no interior do espaço arquitectónico da loja, que à semelhança de muitos espaços em Lisboa, estão neste momento abandonados e degradados. Assinala um problema actual da cidade de Lisboa, o abandono do seu centro histórico, o envelhecimento da cidade e da sua população, a falência do comércio local tradicional. O título de carácter religioso, por contraponto à referência aos instrumentos de diagnóstico científico, pode ser entendido com certa ironia.
Temos os meios para diagnosticar a realidade mas preferimos delegar este papel numa figura mitológica, aceitar com resignação uma certa ideia de destino e de fatalidade. Um certo louvor ao sofrimento, que se confirma na contemplação da doença e da fragilidade da condição humana.
Nasce em Lisboa, em 1964, onde ainda vive e trabalha. Expõe, regularmente, desde os finais dos anos 80. Das exposições individuais, destacam-se: Desconforto Moderno, comissariada por Miguel Von Hafe Perez, Centro Gallego de Arte Contemporánea, Santiago de Compostela, Espanha (2013); Trajectory, comissariada por Greg Esser, Arizona State University Art Museum, Tempe, EUA (2012); Linha de Montagem, comissariada por Isabel Carlos, Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal (2011); , Nicholas Robinson Gallery, Nova Iorque, EUA (2011); Miguel Palma: COMMA 01, comissariada por Graham Gussin e Sacha Craddock, Bloomberg Space, Londres, Reino Unido (2009); Miguel Palma / O Mundo às Avessas, comissariada por Miguel Wandschneider, Culturgest, Lisboa, Portugal (2007); Miguel Palma, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal (2000); Traject, Centre de Création Contemporaine, Tours, França (1997).
Principais colecções em que está representado: FRAC Centre, França; Centre de Création Contemporain, França; Collection Institut D’Art Contemporain Rhônes-Alpes, França; Centre National D’Art et de Culture Georges Pompidou, França; ASU Art Museum Art Collection, EUA; Fundação Calouste Gulbenkian, Portugal; Caixa Geral de Depósitos, Portugal; Fundação de Serralves, Portugal; Colecção Berardo, Portugal; Centro Gallego de Arte Contemporánea, Espanha; Fundación ARCO, Espanha.
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(C) imagens e textos: Cortesia A Montra, 2014.