Helena Almeida | Transubstanciação

Helena Almeida, Sente-me, 1979, Fotografia a preto e branco, © Fundação Leal Rios, Fotografia de: João Biscainho; Edição: Rui Silva
A FLR – Fundação Leal Rios, em Lisboa, apresenta, até ao dia 18 de Maio, a exposição ‘Transubstanciação’ de Helena Almeida, artista da sua colecção e um dos nomes maiores da arte contemporânea portuguesa.
Esta exposição antecede uma série de exposições internacionais. A artista irá expor, a título individual e colectivo, nos seguintes locais: Akademie der Künste (Berlim, Alemanha); Museu Serralves, (Porto, Portugal); Jeu de Paume, (Paris, França) e Wiels Museum, (Bruxelas, Bélgica).
Helena Almeida (n. 1934, Lisboa) é uma figura incontornável no panorama internacional da arte contemporânea. A sua prática artística abrange a fotografia, o vídeo e o desenho evoluindo a partir de uma interrogação permanente da linguagem da pintura. Embora a artista apareça sempre em frente da câmara fotográfica ela insiste que suas imagens não são auto-retratos. Vestida de preto desde o início da década de 1970, por vezes com objectos ou móveis encontrados no seu estúdio – cadeiras, bancos, espelhos, arames, pigmentos, entre outros –, a artista assume posições e situações meticulosamente coreografadas e encenadas em vídeos e desenhos, a fim de criar complexas composições visuais que tanto reflectem sobre o espaço e o tempo como sobre a relação entre a artista e a imagem.
(…) ”Talvez na equação de múltiplas entradas que é a obra de Helena Almeida e as interpretações que este gera seja necessário adicionar mais este, o de um carácter sacrificial presente na persistência e na repetição, mas também na ideia de transubstanciação – em pintura, em fotografia, em desenho, em espaço, no outro. E a dádiva do corpo que, imagem após imagem, ano após ano, se oferece ao nosso reconhecimento.” – Delfim Sardo, Abril de 2013.

Helena Almeida, vista da da exposição Transubstaciação, 2013 © Fundação Leal Rios, Fotografia: João Biscainho; Edição: Rui Silva.
A seguir, excertos do texto de Delfim Sardo sobre a exposição:
‘Helena Almeida é habitualmente entendida, ou a partir da relação crítica que o seu trabalho estabelece com a pintura, ou valorizando o carácter autorrepresentacional da sua obra ou ainda a partir de uma tónica no caráter performativo que se depreende das suas imagens.
Desde as suas primeiras obras que a complexidade da formulação absolutamente pessoal que a artista foi encontrando para a relação que estabelece com a imagem suscita sistematicamente a mesma perplexidade: qual é o estatuto destas imagens fotográficas na relação que desenham com uma prática performativa, qual a relação com a pintura que persiste, até fisicamente, em surgir nas imagens fotográficas, qual a natureza da sua prática dupla do desenho (como esquiço e como obra) e, finalmente, que corporalidade se manifesta nesse corpo genérico que povoa os seus trabalhos. De um outro ponto de vista, também é possível defender que o trabalho de Helena Almeida é sobre o espaço, sobre a fronteira que o plano da imagem define entre o mundo e a representação, sendo que todas essas afirmações podem ser suportadas nas declarações da artista e justamente sedimentadas no seu percurso, bem como na sua história pessoal, o que também transparece em muitos dos textos sobre ela escritos. No conjunto das obras presentes nesta exposição encontram-se argumentos para qualquer uma destas possibilidades interpretativas. (…)

Helena Almeida, vista da da exposição Transubstaciação, 2013 © Fundação Leal Rios, Fotografia: João Biscainho; Edição: Rui Silva.
A relação de Helena Almeida com a pintura, para começar pelo início do seu trabalho artístico, evoluiu desde muito cedo da prática da pintura para uma tipologia de trabalho que tomou como sua tarefa a desconstrução do espaço pictórico e do quadro, precisamente por esta ordem: nas afirmações da própria artista, o contacto com a obra de Lucio Fontana e a noção de fenda aberta sobre a superfície da tela (que o artista ítalo-argentino foi desenvolvendo desde o período da II Guerra Mundial) como passagem para um outro espaço, funcionou como um interruptor para a descoberta da possibilidade de tomar o suporte da pintura, a tela e a grade, como o veículo para a descoberta de uma espacialidade que seria rapidamente indexada ao corpo. Das telas que começaram a incluir extensões anamórficas de braços e pernas, a artista passou, em 1969, para a formulação de telas vestíveis, usadas como ortóteses do corpo que possibilitavam uma corporalização literal da pintura, já só captável através de fotografia. A sua década de 1960 encerra-se com uma abertura para o uso da fotografia que servia uma performatividade que, nascida da pintura e da sua crítica, desenhava um arco assente na desmontagem e posterior alargamento do problema espacial. A questão da relação entre as duas dimensões da representação pictórica e as três dimensões do mundo viria a ser resolvida através do uso do próprio corpo tomado como suporte da tela, ou convertido em tela móvel. Esta tónica na autorrepresentação não deriva, no entanto, de nenhuma preocupação com o autorretrato, embora a descoberta de que esse apagamento necessitaria de ser efetuado pela supressão do rosto só viesse a acontecer a partir de 1976. (…)
– Delfim Sardo, Abril de 2013
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Helena Almeida, Para um enriquecimento interior, 1976 , fotografia a preto e branco e acrílico azul; composição em rectângulo © Fundação Leal Rios, Fotografia de: João Biscainho; Edição: Rui Silva
Helena Almeida nasce em 1934, Lisboa, Portugal, cidade onde vive e trabalha. Estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. A sua prática artística abrange a fotografia, o vídeo e o desenho evoluindo a partir de uma interrogação permanente da linguagem da pintura. Embora a artista apareça sempre em frente da câmara fotográfica ela insiste que suas imagens não são auto-retratos. Vestida de preto desde o início da década de 1970, por vezes com objectos ou móveis encontrados no seu estúdio – cadeiras, bancos, espelhos, arames, pigmentos, entre outros –, a artista assume posições e situações meticulosamente coreografadas e encenadas em vídeos e desenhos, a fim de criar complexas composições visuais que tanto reflectem sobre o espaço e o tempo como sobre a relação entre a artista e a imagem. Inicialmente, os vídeos e os desenhos funcionam como estudos e possibilidades para as fotografias ganham autonomia e legitimidade no modo pertinente de levantar questões sobre as próprias práticas artísticas contemporâneas como, também, nas várias possibilidades de concretizações e produções da cultura na sociedade actual.
A artista representou Portugal na Bienal de Veneza por duas ocasiões: 1982 e 2005. Em 2004, participa na Bienal de Sidney, Austrália. Recentemente a sua obra foi exibida em importantes museus e galerias, tais como: Galerie les filles du calvarie, Paris, França; John Hansard Gallery, Southampton, Inglaterra; Fundación Telefónica, Madrid, Espanha; Helga de Alvear, Madrid; Pinacoteca de São Paulo, Brasil; Kettle’s Yard, University of Cambridge, Inglaterra; Galeria Filomena Soares, Lisboa; Thomas Erben Gallery, Nova Iorque, E.U.A. e Tate Modern, Londres.
A sua obra está presente em várias colecções internacionais, destacam-se as seguintes: Banco de Espanha, Madrid; Bibliotheque National de Paris; Colecção Berardo, Lisboa; Tate Modern, Londres; Fundación ARCO, Madrid; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; FLR – Fundação Leal Rios, Lisboa; Fundação Serralves, Porto, Portugal; Galerie Bama, Paris; Galerie Drehscheibe, Basileia, Suíça; Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio, Japão; MUDAM – Musée d’Art Moderne Grand Duc Jean, Luxemburgo; MEIAC – Museo Extremeno e Iberoamericano de Arte Contemporáneo, Badajoz, Espanha; MACBA – Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, Espanha; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid; e Colletion Sammlung Verbund di Viena, Áustria.

Helena Almeida, vista da da exposição Transubstaciação, 2013 – Feel me, 1979 -, Black & white photography © Fundação Leal Rios, Fotografia: João Biscainho; Edição: Rui Silva.
Delfim Sardo nasceu em Aveiro em 1962. É curador, docente universitário e ensaísta. É Professor do Colégio das Artes e da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte /Portugal. Foi o Comissário Geral da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2010. Desde 1990 que se dedica à curadoria de arte contemporânea, bem como à ensaística sobre arte. Entre 2003 e 2006 foi Director do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.Foi fundador e director da revista Pangloss. Entre 1997 e 2003 foi consultor da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1999 foi o Comissário da Representação Portuguesa à 48ª Bienal de Veneza. Em 2010 foi co-Comissário da Representação Portuguesa à Bienal de Veneza de Arquitectura. No campo das publicações destacam-se os volumes Julião Sarmento, Catalogue Raisonée, Edições Numeradas, Vol.I (MEIAC, 2007), Luxury Bound (Electa, Milão, 1999), Jorge Molder (Caminho, Lisboa, 2005), Helena Almeida, Pés no Chão, Cabeça no Céu (Bial, 2004), Pintura Redux (Fundação de Serralves/Público, 2006), Abrir a Caixa (Caixa Geral de Depósitos, 2009) e A Visão em Apneia (Babel, 2011). Colabora regularmente como ensaísta para publicações sobre arte e arquitectura.
Visitas à exposição
Apenas por marcação
Quintas e sextas
15h — 17:30h | +info: FLR
(C) imagens: © Cortesia de Fundação Leal Rios, Lisboa, 2013.

Helena Almeida, A experiência do lugar, 2004, Vídeo © Fundação Leal Rios, Fotografia: João Biscainho; Edição: Rui Silva