Fernando Lopes
Fernando Lopes
(1935-2012)
“Fighters don’t fade away. They just die in front of our eyes”.
Budd Schulberg
“Antes de chamar a este Ciclo “Fernando Lopes por Cá”, pensei chamá-lo “Fernando Lopes, Rapaz de Lisboa”. Não o chamei porque o título tem dono (bom dono) e porque alguém de 60 anos a chamar rapaz a um rapaz da idade dele dá vontade de rir aos fi lhos e aos netos, que ainda não sabem como o tempo passa ou como o tempo não passa. Mas, sempre, desde que o conheci, em 1964 (cf. texto sobre O Fio do Horizonte), rapazes éramos mesmo, como rapaz e rapaz de Lisboa vi o Fernando Lopes, com a névoa no olho astuto (o menos embaciado é o mais desarmado) e o corpo em posição de quem saltou da retaguarda do eléctrico fechado para o estribo do eléctrico aberto, a caminho da bola, da Tobis, ou da R.T.P., ali onde começa a Alameda das Linhas de Torres e acabam os campos grandes, em tarde de muito sol e cheiro a sovaquinho. Lisboa, ainda de Alvalade e já de Terceiro Anel. O anel da luz, que, por esses mesmos anos, o Paulo Rocha, o Cunha Telles e mais uns tantos estavam a dar ao léxico de uma cidade que até então não o tivera, fechada em bairros de vales e colinas a que a geração dele (a nossa) só ia em turismo, acabadas as casas de putas e os cafés do reviralho anterior. Desses homens da luz, o Fernando era o mais soalheiro e o mais soalhento, o que mais cheirava a Lisboa. O Paulo Rocha andava embrulhado em cachecóis e os sobretudos pingavam-lhe, como se continuasse a querer proteger-se dos frios nórdicos de entre Ovar e o Mindelo. O Cunha Telles varejava atlanticamente, como dizia o Gérard. Os outros pareciam-se com todos os outros, todos nós, já que de Lisboa ninguém é, embora de Lisboa mais que muitos sejamos. O Fernando, como o Belarmino dele, não. Em que outra cidade -não digo, por enquanto, outro país – seriam concebíveis, assim os travellings, fachada aqui, subterrâneo acolá? (…)”
João Bénard da Costa
links:
aqui autobiografia que escreveu, em 2007, para o Jornal de Letras
aqui vários textos de outros realizadores sobre a sua obra (via Cinemateca)
a seguir prestação de Fernando Lopes, como actor, no filme Lovebirds (2007) de Bruno de Almeida.
A seguir excertos de alguns dos seus filmes por ordem cronológica:
As Palavras e os Fios (1962)
Belarmino (1964)
Uma Abelha na Chuva (1972)
Crónica dos Bons Malandros (1984)
Delfim (2002)
Os Sorrisos do destino (2009)
Em Câmara Lenta (2012)
