Antoni Tàpies
Antoni Tàpies (1923-2012)
Antoni Tàpies nasceu em Barcelona, Espanha, em 1923 no seio de uma família Catalã, burguesa e culta, com uma herança editorial e livreira que remonta a meados do século XIX, razão do seu grande interesse por livros e leitura. Durante um longo período de convalescença, de uma doença nos pulmões, intensifica o seu interesse pela leitura e inicia as suas primeiras experiências artísticas, começando a dedicar muito do seu tempo à pintura e ao desenho. Acaba por desistir dos seus estudos de advocacia e começa a exercer a pintura em pleno. Nos anos quarenta, do século XX, já expõe, de forma regular, e com sucesso.

Antoni Tàpies, ‘7 de novembre’, 1971 © Fundació Antoni Tàpies, Barcelona/VEGAP © fotografia: Martí Gasull.
Após o final da 2ª Guerra Mundial e do lançamento da bomba atómica Tàpies, assim como muitos artistas da época, começa a expressar as suas preocupações, sobre estes temas, através da sua obra. Atomos e partículas, terra, pó – utiliza materias diferentes e experimenta novas técnicas. As pinturas sobre a matéria compõe uma parte substancial do seu trabalho até aos dias de hoje. Ele defendia que a matéria devia, também, ser entendida do ponto de vista do misticismo medieval como mimesis, magia e alquimia. Assim, devemos entender o seu desejo de que as suas obras tenham o poder de transformar o indivíduo.

Antoni Tàpies, ‘Ventalles I, Ventalles II and Ventalles III’, 1968 © Fundació Antoni Tàpies, Barcelona/VEGAP © fotografia: Jean Mohr.
Nos anos cinquenta e sessenta Tàpies criou uma série de imagens, geralmente retiradas do seu ambiente quotidiano, que seriam exibidas nas suas diferentes etapas evolutivas. E, muitas vezes, representadas de várias maneiras – uma única imagem podia ter uma série de significados diferenciados e sobrepostos. A sua mensagem centra-se na reavaliação do que é considerado como material e repugnante, não é por acaso que escolhe assuntos tradicionalmente desagradáveis ou fetichistas, como o ânus, as axilas, os pés, entre outros.

Antoni Tàpies, ‘Mural sud’, 1962 (fragment). © Fundació Antoni Tàpies, Barcelona/VEGAP © fotógrafo desconhecido.
O trabalho de Tàpies absorveu os acontecimentos políticos e sociais da época. No final dos anos sessenta e setenta o seu compromisso político, em oposição à ditadura, aprofundou-se e as obras desse período tem um caráter de denúncia e protesto. Coincidindo com o florescimento da arte povera, na Europa, e do pós-minimalismo, nos Estados Unidos, ele trabalha com objetos transformando-os, assinalando-os com um selo próprio e incorporando-os na sua linguagem. No início dos anos oitenta, a democracia volta a Espanha e o seu interesse na tela, como suporte, assume uma força renovada. Produz obras com espuma de borracha, spray, vernizes e cria objetos e esculturas em argila e bronze. Mantêm-se, também, activo na arte gráfica. Nos últimos anos, dessa década, começa a interessar-se pela cultura oriental enaltecendo uma preocupação e influência filosófica, que já vem dos anos do pós-guerra, sobre o que é material, sobre a identidade do homem e da natureza – rejeitando a noção de dualismo. Foi atraído por uma nova geração de cientistas, que vêem proporcionar uma visão do universo que compreende a matéria como um todo em constante mutação e formação.

Antoni Tàpies, ‘Gran esquinçall’, 1970 © Fundació Antoni Tàpies, Barcelona/VEGAP © fotografia: Pius Rast
As obras dos últimos anos são, acima de tudo, uma reflexão sobre a dor – física e espiritual – entendida como parte integrante da vida. Influenciado pelo pensamento budista, Tàpies acredita que um melhor conhecimento da dor nos permite suavizar os seus efeitos e, portanto, melhorar a nossa qualidade de vida. A passagem do tempo, que foi sempre uma constante no seu trabalho, assume, agora, uma experiência pessoal que traz um maior auto-conhecimento e uma compreensão mais clara do mundo à sua volta.

Antoni Tàpies, ‘Rinzen’, 1992-1993 (fragment) © Fundació Antoni Tàpies, Barcelona/VEGAP. (Imagem cedida pelo Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA).
Nos últimos anos, consolida uma linguagem artística que transmite a sua concepção sobre arte e certas preocupações filosóficas que se foram renovando ao longo dos anos. A sua prática artística mantêm-se aberta, ao presente, oferecendo uma forma que, apesar de dual, permanece fiel às suas origens. Assim, as últimas obras são contemporâneas mas, também, um registo do seu próprio passado.

Antoni Tàpies, ‘Monument Homenage a Picasso’, 1983 © Fundació Antoni Tàpies, Barcelona/VEGAP © fotografia: Fundació Antoni Tàpies.