Raquel Feliciano | Sba

A Porta 33 inaugura

no próximo sábado, 26 de Maio

uma exposição de Raquel Feliciano

intitulada ‘Sba’

Sba: a porta/ a estrela (em alfabeto hieroglífico egípcio)

16 fotografias a preto e branco e 4 esculturas geométricas, minimalistas.

No total, a evocação de um confronto subtil mas ancestral: de um lado, a atracção magnético-mineral de pendor erótico pelas trevas, a noite, a terra — em que a ilusão de um segredo escondido no interior da terra faz pensar que pelo caminho do corpo se poderia ascender à alma e por fim ao espírito (ou que pela imagem se podia aceder à verdade); do outro lado e sem poderem conciliar-se: o anseio pela luz, princípio solar de claridade ofuscante — associada ao conhecimento, ao eidos, ao domínio do espírito, que “desce” para se confrontar à matéria pelo intermédio da alma. A alegoria da caverna de Platão ou o périplo de Dante na Divina Comédia são relatos da passagem entre estados, da escuridão para a luz. Em ambas, o caminho é o do esforço dialéctico ascencional tendo por base a recusa das aparências e da cupidez. Para um artista, equivaleria a resistir à tentação de querer fixar ou concretizar uma visão interior numa forma exterior fixa, estimuladora dos sentidos (para não falar em seduzir os espectadores ou obter ganhos materiais com ela). Na base de várias iniciações, a queda de Psyche na matéria representava o estado primário da humanidade. O neofito era levado a confrontar-se com a sua natureza terrena e a escolher: vencê-la e “morrer” para o mundo profano e renascer Outro, ou enebriar-se dela e perecer do espírito. O artista é como um neofito, confrontado às tentações enebriantes dos sentidos ou falsos labirintos das impressões, tanto quanto aos falsos labirintos virtuais do intelecto. É no entanto no confronto com essa sua condição que pode haver libertação. Sba, porta e estrela… entre os dois homónimos na língua misteriosa hieroglífica do Egipto antigo, um tecido subtil entrelaça-se através de um fio — o da abertura e passagem ou salto possível para outra dimensão, outra fractalidade. Passagem não isenta de armadilhas e dificuldades — jogos de espelhos, véus, miragens e tentações.

Raquel Feliciano, Porta 2012, prova de brometo de prata em papel baritado, 27×40,50cm. Cortesia Porta 33, 2012.

Raquel Feliciano nasceu nas Caldas da Rainha em 1983. Licenciada em Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, frequentou em 2007 a Universität der Künste (Berlim) como bolseira Erasmus. Desde então, tem desenvolvido actividade enquanto artista e educadora, interessando-se pelo estudo de modelos pedagógicos que possam responder às necessidades de uma maieutica do espírito. Trabalha no serviço educatico do C.A.M. (F.C. Gulbenkian), tendo estado associada a vários outros projectos pedagógicos, com crianças e adultos, através do desenho, da música, jogos cooperativos e debates orientados.

Por ocasião desta exposição, a Porta 33 organiza, no dia da inauguração, dia 26, uma conversa aberta ao público com Raquel Feliciano, Maria João Branco, docente no Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Rodrigo Silva, professor da Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha.

A exposição está patente até 29.09.2012, mais informações através de Porta 33.

Raquel Feliciano, Modelo de Universo, 2012. Espelhos e silicone, 40x40x40cm. Cortesia Porta 33, 2012.